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Macron cria comitê de historiadores para estudar arquivos sobre genocídio em Ruanda

04.abr.2019 - O presidente da França Emmanuel Macron - Ludovic Marin/AFP
04.abr.2019 - O presidente da França Emmanuel Macron Imagem: Ludovic Marin/AFP

05/04/2019 10h33

Paris, 5 Abr 2019 (AFP) - O presidente francês Emmanuel Macron anunciou hoje a criação de um comitê de historiadores que terá acesso a "todos os arquivos franceses" sobre o período 1990-1994 para esclarecer o papel desempenhado por Paris durante o genocídio em Ruanda.

Na véspera das cerimônias no domingo do 25º aniversário do genocídio, Macron recebeu no palácio presidencial do Eliseu membros da associação Ibula France, dedicada ao "apoio aos sobreviventes e à memória" desta tragédia".

No evento, o presidente francês anunciou a criação do comitê.

"Esta comissão, de oito investigadores e historiadores, será liderada pelo professor Vincent Duclert e terá como missão consultar o conjunto de arquivos franceses relacionados ao genocídio, no período 1990-1994, para analisar o papel da França (...) e contribuir para uma melhor entendimento do genocídio dos tutsis", segundo um comunicado do palácio presidencial do Eliseu.

Além disso, Macron anunciou um "reforço" dos meios judiciais e policiais para acelerar as ações penais contra pessoas suspeitas de participação no genocídio em Ruanda e que estariam na França.

O objetivo é fazer com que esses suspeitos "sejam julgados num prazo razoável", aponta o comunicado.

"Ao cumprir com seus compromissos, o presidente da República deseja reunir as condições para que a verdade histórica venha à luz", afirmou o Eliseu.

Ibuka France, fundada em 2002, é a versão francesa da organização Ibuka ("Recorda"), principal grupo de sobreviventes do genocídio de Ruanda.

Entre as questões mais debatidas está o alcance da ajuda militar francesa ao regime do presidente ruandês hutu Juvenal Habyarimana de 1990 a 1994, e as circunstâncias do atentado que lhe custou a vida em 6 de abril de 1994, um elemento que desencadeou o genocídio.

Apesar de ter sido oficialmente convidado pelo presidente de Ruanda Paul Kagame, Macron não participará dos eventos programados para domingo em Kigali.

Ele será representado pelo deputado Hervé Berville, um órfão tutsi ruandês adotado por uma família francesa em 1994.

Entre abril e julho de 1994, o regime extremista hutu matou ao menos 800.000 pessoas, segundo a ONU, principalmente entre a minoria tutsi e também entre os hutus moderados.

O assassinato em 6 de abril de 1994 do então presidente ruandês, o hutu Juvénal Habyarimana, foi o elemento deflagrador do genocídio.

No dia seguinte, as Forças Armadas Ruandesas (FAR) e os milicianos hutus Interahamwe, fanatizados após anos de propaganda contra os tutsis, deram início aos massacres.

Os assassinatos se estenderam a todo país. Incitadas pelas autoridades e pela "mídia do ódio", todas as camadas da população se entregaram à causa. Homens, mulheres e crianças foram exterminados a golpes de machado, inclusive dentro das igrejas onde buscaram refúgio.

O massacre teve fim quando a rebelião tutsi da Frente Patriótica Ruandesa (FPR) conquistou Kigali, em 4 de julho, desencadeando o êxodo de milhares de hutus atemorizados para o vizinho Zaire (atual República Democrática do Congo).