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Número de mortos na repressão de opositores no Sudão chega a 60

05/06/2019 09h48

Cartum, 5 Jun 2019 (AFP) - Sessenta pessoas morreram na repressão aos manifestantes desde segunda-feira, quando as forças de segurança dispersaram à força um acampamento da oposição diante do quartel-general das Forças Armadas em Cartum, anunciou o Comitê Central de Médicos Sudaneses.

Disparos de arma de fogo continuam a ser ouvidos nesta quarta-feira nas ruas da capital Cartum.

O comunicado anterior do Comitê, ligado aos manifestantes, citava mais de 35 mortos.

A repressão, ordenada pelo Conselho Militar de Transição, que governa o Sudão desde 11 de abril, foi condenada pela ONU e vários países, incluindo Estados Unidos e Reino Unido.

O Comitê acusa as milícias do Conselho Militar de responsabilidade pela "matança". Segundo esta organização, o número de mortos é "muito maior", uma vez que apenas os corpos em hospitais puderam ser contabilizados.

A oposição considera que a Força de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês) é a principal responsável pela dispersão violenta do acampamento diante da sede do exército, que aconteceu na segunda-feira, e pediu a continuidade dos protestos contra o poder militar.

O acampamento, que começou em 6 de abril, conseguiu a destituição do presidente Omar al-Bashir em 11 de abril, substituído pelo Comitê Militar de Transição.

Os manifestantes, no entanto, prosseguiram com o acampamento diante da sede das Forças Armadas para exigir a transferência de poder aos civis.

Nesta quarta-feira, várias testemunhas relataram disparos de armas de fogo na capital sudanesa.

O comércio em Cartum não abriu e poucos eram os veículos circulando nas ruas no dia em que o país celebra o Eid al Fitr, que marca o fim do mês do Ramadã muçulmano.

A internet móvel não está acessível desde segunda-feira, enquanto as redes sociais desempenharam papel fundamental no movimento de contestação.

"Entre os mais de 300 feridos, há pessoas em estado grave e esperamos que o número de mortos aumente", declarou um médico que trabalha em dois hospitais de Cartum.

"A situação é muito difícil", afirmou à AFP sob condição de anonimato por razões de segurança. "A maioria dos hospitais recebeu mais vítimas que suas capacidades".

Segundo o comitê de médicos, vários profissionais da área da saúde "foram espancados e presos" pelas forças de segurança, e vários hospitais foram atacados.

Em Omdurman, cidade vizinha de Cartum, as forças de segurança patrulhavam as ruas em veículos equipados com metralhadoras e canhões anti-aéreos.

Em Cartum, o tráfego era complicado em razão da presença das RSF e dos bloqueios de manifestantes.

As RFS costumam atuar em outras regiões em conflito no Sudão e são acusadas por muitos sudaneses e organizações de defesa dos direitos humanos de graves excessos em Darfur (oeste).

Em um discurso televisionado, o chefe do Conselho militar Abdel Fattah al-Burhane disse "lamentar o que aconteceu" em Cartum na segunda-feira.

Uma investigação foi aberta pelo Procuradoria Geral.

Os generais negam ter "dispersado pela força" os manifestantes em frente à sede do Exército, e evocam uma "operação de limpeza" perto do acampamento pelas forças de segurança que degenerou em violência.

"Abrimos os braços a negociações sem restrições para fundar um poder legítimo que seja o reflexo da revolução dos sudaneses", declarou o general Burhane, pedindo "a abertura de uma nova página".

Os generais decidiram anular todos os acordos e negociações com os líderes da contestação, apelando para a realização de eleições.

Os representantes dos manifestantes também anunciaram a ruptura de "todo contato" com os militares após o massacre de segunda, rejeitando o apelo para a organização de eleições pelo Conselho "golpista".

As negociações haviam sido suspensas em 20 de maio diante das divergências sobre a transição pós-Bashir.

A comunidade internacional pediu a retomada do diálogo. Mas, "ao ordenar esses ataques, o Conselho militar de transição colocou em perigo o processo de transição e de paz no Sudão", denunciaram Washington, Londres e Oslo.

A Arábia Saudita, por sua vez, ressaltou a importância "da retomada do diálogo entre as diferentes forças políticas".

De acordo com diplomatas, a China, apoiada pela Rússia, bloqueou na terça-feira no Conselho de Segurança da ONU um texto condenando as mortes de civis e pedindo o fim da violência.

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