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Polônia recorda os 80 anos do ataque nazista sem presença de Trump

30/08/2019 14h07

Varsóvia, 30 Ago 2019 (AFP) - Após o anúncio da ausência do presidente americano, Donald Trump, a chanceler Angela Merkel será a única líder estrangeira a participar das cerimônias pelo 80º aniversário do início da Segunda Guerra Mundial, no domingo (1º), em Varsóvia.

Nem o presidente francês, Emmanuel Macron, nem o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, vão comparecer ao evento que relembra o início do conflito que deixou entre 40 e 60 milhões de mortos. Destes, seis milhões eram judeus, a maioria vítima do Holocausto cometido pelos nazistas alemães.

O presidente Trump explicou que permanecerá nos Estados Unidos em função da proximidade do furacão Dorian, que ameaça a Flórida. País considerado pelo governo conservador nacionalista de Varsóvia como seu mais importante aliado, os EUA serão representados pelo vice-presidente Mike Pence.

O presidente russo, Vladimir Putin, não foi convidado por causa da anexação por parte de Moscou da península ucraniana da Crimeia. A diplomacia também alegou que a escolha foi reunir apenas os países-membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), da UE e da Associação Oriental. Moscou não pertence a nenhuma delas.

"A celebração deveria ser um evento de reunião", comentou o analista polonês Marcin Zaborowski, acrescentando que Varsóvia deveria ter convidado Putin e se esforçado para atrair outras lideranças estrangeiras, em vez de se concentrar apenas no presidente americano.

"Ele cancelou (sua vinda), e todo o evento parece perder importância", disse ele à AFP.

Segundo a Presidência polonesa, cerca de 40 delegações estrangeiras assistirão às cerimônias de domingo, metade delas liderada por chefes de Estado.

Um dos presentes será o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski. A posição da Ucrânia fora da zona de influência de Moscou é considerada, em Varsóvia, um importante elemento para a segurança da Polônia.

- Bombardeio de madrugada -Em 23 de agosto de 1939, a Alemanha nazista e a União Soviética comunista firmaram o pacto Ribbentrop-Molotov, que incluía um anexo secreto sobre a divisão do leste da Europa entre Berlim e Moscou.

A agressão alemã começou em 1º de setembro com os bombardeios navais à guarnição de Westerplatte na costa do Báltico, assim como aéreos, sobre a pequena cidade de Wielun.

No domingo, entre as quatro e cinco horas da manhã, o presidente polonês, Andrzej Duda, e seu colega alemão, Frank-Walter Steinmeier, participarão de uma cerimônia em Wielun, enquanto o primeiro-ministro polonês, Mateusz Morawiecki, e o vice-presidente da Comissão Europeia, Frans Timmermans, estarão em Westerplatte.

Pouco depois das 12h, após os pronunciamentos dos presidentes polonês e alemão, Pence discursará diante do Túmulo do Soldado Desconhecido, em homenagem aos mortos, no centro da Varsóvia.

Em 3 de setembro de 1939, França e Grã-Bretanha, aliados da Polônia, declararam guerra à Alemanha, mas sem lançar operações importantes. Em 17 de setembro, a URSS atacou o leste da Polônia.

A colaboração entre nazistas e soviéticos terminou com o ataque de Hitler à URSS em 22 de junho de 1941. A guerra continuou entre os Aliados, aos quais se somaram a URSS e os Estados Unidos. O Eixo germano-ítalo-japonês foi finalmente derrotado em 1945.

- Milhares de soldados -O chefe de gabinete do presidente polonês, Krzysztof Szczerski, declarou nesta sexta-feira que a visita de Trump não foi cancelada, mas adiada. Ele acrescentou que as lideranças polonesas entendem as razões, pelas quais Trump precisou permanecer nos EUA, preocupado com os riscos de destruição do furacão Dorian sobre a Flórida.

Em Varsóvia, o presidente americano deve assinar uma declaração sobre o envio para a Polônia de mais mil soldados americanos. Este novo efetivo deve se somar aos cerca de 5000 militares já no local, como parte de um dispositivo da Otan.

O ministro polonês da Defesa, Mariusz Blaszczak, explicou que a assinatura do documento será realizada na próxima visita de Trump.

O ex-premiê polonês de esquerda Leszek Miller avaliou a ausência de Trump como um duro golpe para o partido conservador no poder, o Direito e Justiça (PiS), faltando seis semanas para as eleições legislativas de 13 de outubro.

"O PiS queria fazer dessa visita um elemento-chave de sua campanha de propaganda", apontou.

O líder do partido progressista Wiosna (Printemps), Robert Biedron, criticou o PiS por ter apostado tudo na aproximação com os Estados Unidos em detrimento dos aliados europeus.

"Foi um erro. Isso nos marginalizou completamente na UE", declarou.

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