Hong Kong é um 'estado policial', dizem manifestantes
Hong Kong é um "estado policial" onde oficiais - que antes eram considerados "os melhores da Ásia" - estão cometendo abusos a serviço da liderança pró-Pequim da cidade, disseram à AFP no sábado vozes proeminentes do movimento de protestos desse centro financeiro global.
Os comentários foram feitos no contexto de confronto entre a polícia de choque e os manifestantes em Hong Kong neste sábado, perto da fronteira chinesa.
Esses foram os últimos confrontos em mais de três meses de prostestos em defesa de mais liberdade no território semi-autônomo.
"Nesses três meses e meio, vimos a polícia de Hong Kong ficar totalmente fora de controle", disse a ativista e estrela pop Denise Ho em entrevista à AFP.
"Hong Kong se tornou um estado policial, onde o governo se esconde atrás da força policial e se recusa a encontrar soluções para a crise atual".
Figuras conhecidas no movimento de protesto sem lideranças visitaram EUA, Alemanha, Taiwan e Austrália para alertar a comunidade internacional sobre a repressão.
"Nosso sistema policial foi corrompido em uma ferramenta pessoal para Carrie Lam manter seu poder e abusar do poder público de torturar e silenciar as pessoas", disse outro ativista, Brian Leung, na entrevista à AFP, referindo-se ao líder da ex-colônia britânica, que não foi eleito diretamente, mas nomeado por um comitê esmagadoramente favorável a Pequim.
Na sexta-feira, a Anistia Internacional acusou a polícia de Hong Kong de usar a força excessivamente.
"Em uma aparente sede de retaliação, as forças de segurança de Hong Kong se envolveram em um padrão perturbador de táticas imprudentes e ilegais contra as pessoas durante os protestos", disse Nicholas Bequelin, diretor da organização no Leste da Ásia. "Isso incluiu prisões arbitrárias e violência retaliatória contra pessoas detidas sob custódia, algumas das quais equivaleram à tortura".
Leung disse à AFP que "há incontáveis incidentes de tamanha brutalidade" e que "o pior da situação é que a polícia esconde sistematicamente sua identidade, não está mostrando o rosto, o que torna impossível a prestação de contas".
Ele alegou que alguns manifestantes feridos não vão ao hospital porque temem que isso possa levar a polícia a obter informações sobre eles.
"Portanto, não sabemos a escala exata e o número de feridos e temos certeza de que, se a polícia continuar com essa brutalidade, será apenas uma questão de tempo até que um cidadão sofra ferimentos fatais", acrescentou Leung.
Milhões de pessoas tomam as ruas de Hong Kong desde de junho, e pequenos grupos de manifestantes radicais chegaram a atear fogo em lojas, a ocupar o prédio legislativo da cidade e a atirar pedras e coquetéis molotov contra policiais, que revidaram com gás lacrimogêneo e balas de borracha.
Joshua Wong, outro ativista, disse que é um dos 200 entre os 1.500 presos a ser processado.
Uma criança de 12 anos foi detida e "mesmo socorristas, médicos ou enfermeiros que atuam nos protestos serão presos pela polícia sem motivo legítimo", disse ele.
"Hong Kong se transformou de uma cidade global moderna em um estado policial com violência policial", disse Wong à AFP.
Entre suas demandas, os ativistas querem uma investigação independente da suposta brutalidade policial.
seb-it/acb/cc
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