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Cidades fantasmas no Brasil quatro anos após desastre de Mariana

Douglas Magno/AFP
Imagem: Douglas Magno/AFP

Em Mariana (MG)

02/11/2019 15h26

No dia 5 de novembro de 2015, a ruptura de uma barragem de resíduos de mineração provocou a pior catástrofe ambiental da história do Brasil. Quatro anos depois, nas zonas arrasadas do município de Mariana, em Minas Gerais, restam apenas ruínas de pequenas cidades, uma natureza devastada e milhares de pessoas a espera de indenização.

A barragem do Fundão - da empresa Samarco - liberou quase 40 milhões de metros cúbicos de resíduos altamente contaminantes, que apagaram do mapa as localidades de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo.

Da lama que soterrou estes locais emergem agora cidades fantasmas: casas, igrejas, uma escola coberta de mato e com paredes ainda manchadas do material avermelhado de minério de ferro.

"Foi o pior dia da minha vida, corri para não morrer, para não ficar na lama", conta Zezinho do Bento, comerciante aposentado de Bento Rodrigues. "Só não perdi minha vida, o resto perdi tudo".

O rio de lama matou 19 pessoas, afetou 39 municípios de Minas Gerais e do vizinho Espírito Santo e percorreu mais de 600 km pelo rio Doce e seus afluentes até manchar o Atlântico, devastando fauna e flora em sua passagem.

"Com o tempo, a água foi baixando e as ruínas começaram a aparecer. Os moradores me contaram como era viver aqui, que adoravam o lugar", diz o fotógrafo colaborador da AFP Douglas Magno, que cobriu a tragédia em 2015 e voltou à região várias vezes.

Até o momento, nenhum diretor da Samarco (da Vale e da anglo-australiana BHP) foi condenado ou está preso.

As acusações de homicídio foram anuladas e restam apenas algumas denúncias por inundação qualificada, deslizamento de terra e crime ambiental.

- As novas cidades -Até agosto passado, as mineradoras Samarco, Vale e BHP desembolsaram 6,68 bilhões de reais através da Fundação Renova, que administra os recursos, para "medidas de reparo e compensação" na bacia do rio Doce e seus 113 afluentes.

Mas vários rios ainda precisam ser tratados e falta reflorestar cerca de 40 mil hectares de mata atlântica, segundo a Fundação Renova.

Este organismo entregou 1,84 bilhão de reais em indenizações e ajuda financeira a cerca de 320 mil pessoas, apesar de o ministério público de Minas avaliar que o desastre atingiu ao menos 700.000 pessoas.

Em Mariana, apenas 151 das 825 famílias registradas - até dezembro de 2018 - como vítimas do rompimento da barragem foram indenizadas, segundo o procurador Guilherme Meneghin.

No total, 402 famílias seguem esperando as casas que a Samarco constrói em uma zona fora de risco, onde ficarão as "novas" Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo. A previsão é concluir as obras em agosto de 2020.

"Estão tentando que sejam o mais parecido com o que eram antes. Inclusive vão construir duas igrejas" com a mesma distância que tinham entre si, explica Douglas Magno.

A frase "Mariana nunca mais" foi emblema da Vale após a tragédia, mas a ilusão durou pouco: em janeiro de 2019, o desastre se repetiu no município de Brumadinho, também em Minas, quando uma represa da mesma empresa se rompeu, deixando 270 mortos ou desaparecidos, na pior catástrofe industrial da história do Brasil em termos de vítimas.

No dia 25 de outubro passado, a Samarco recuperou sua licença para operar na região, onde permanece como uma importante fonte de renda e trabalho.

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