Embaixador dos EUA na UE diz no Congresso que seguia ordens de Trump sobre Ucrânia
Washington, 20 Nov 2019 (AFP) - O embaixador dos Estados Unidos na União Europeia, Gordon Sondland, disse nesta quarta-feira (20), no Congresso americano, que o presidente Donald Trump nunca falou com ele sobre suspender ajuda militar para a Ucrânia, nem sobre qualquer suposta exigência de investigação com fins políticos.
"Nunca ouvi do presidente Trump que a ajuda estivesse condicionada a um anúncio [de investigação]", declarou Gordon Sondland, na audiência no Comitê de Inteligência da Câmara de Representantes.
"Não me lembro de que o presidente Trump tenha me falado, alguma vez, sobre qualquer ajuda em segurança. Nunca", acrescentou.
"Nós seguíamos as ordens do presidente", afirmou, apontando que os diplomatas americanos tiveram de trabalhar com o advogado pessoal de Trump, o ex-prefeito de Nova York Rudy Giuliani.
"Não queríamos trabalhar com Giuliani", disse o enviado dos Estados Unidos à União Europeia.
"Como testemunhei anteriormente, os pedidos de Giuliani constituíram um 'quid pro quo' (uma coisa em troca de outra) para organizar uma visita do presidente (Volodimir) Zelenski à Casa Branca", afirmou o diplomata, um executivo nomeado embaixador após ter financiado os festejos da posse de Trump.
Sondland frisou que "nunca recebeu uma resposta clara" sobre por que a Casa Branca suspendeu US$ 391 milhões em ajuda para a segurança da Ucrânia, mas que "chegou a acreditar" que também estivesse ligada às investigações que Trump queria sobre o ex-vice-presidente dos EUA Joe Biden.
"Quando soubemos que a Casa Branca também havia suspendido a ajuda à segurança da Ucrânia, eu era categoricamente contrário a qualquer suspensão da mesma, uma vez que os ucranianos precisavam dessa verba para lutar contra as agressões", assinalou.
"Na ausência de qualquer explicação crível para a suspensão de ajuda, mais tarde cheguei a acreditar que a retomada da ajuda não aconteceria até que tivesse uma declaração pública da Ucrânia, comprometendo-se com as investigações das eleições de 2016 e da Burisma, como Giuliani havia exigido", afirmou.
O diplomata esclareceu, porém, que a relação entre o congelamento da ajuda e as investigações são fruto de sua "própria conjectura pessoal".
Trump se esforçou nesta quarta-feira para marcar uma distância de Sondland. "Não o conheço muito bem. Nunca falei muito com ele", disse aos jornalistas na Casa Branca, durante o depoimento do funcionário no Congresso.
Trump exigiu o fim imediato da investigação contra ele. "Essa caça às bruxas tem que acabar já. É tão ruim para o nosso país!", tuitou Trump, depois que Sondland disse aos legisladores que seguia ordens do presidente em relação à Ucrânia.
- Alto escalão sabiaSondland relatou que ele e outros dois integrantes do governo - o secretário de Energia, Rick Perry, e o enviado especial dos EUA para a Ucrânia, Kurt Volker - haviam "trabalhado com Rudy Giuliani em assuntos da Ucrânia, sob a ordem direta do presidente dos Estados Unidos".
Negou, porém, que o trio - apelidado de "três amigos" - tenha estado envolvido em qualquer ação "irregular, ou desonesta", que se afastasse da política do Executivo.
Disse que os funcionários de alto escalão na Casa Branca e do Departamento de Estado, incluindo o secretário de Estado, Mike Pompeo, e o então conselheiro de Segurança Nacional, John Bolton, foram informados destes esforços.
Sondland acrescentou que, desde o momento em que Zelenski assumiu o cargo em abril, Trump esteve "cético" quanto à possibilidade de construir uma relação com Kiev.
"Em resposta aos nossos esforços persistentes para mudar seus pontos de vista, o presidente Trump nos ordenou 'falem com Rudy'".
A caminho de se tornar o terceiro presidente americano a ser submetido a um processo de impeachment, Trump afirma que não fez nada de errado, que não houve nada irregular na conversa, e chamou a investigação de uma "caça às bruxas".
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