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Modi reforça nacionalismo hindu na Índia com construção de templo

05/08/2020 12h49

Ayodhya, Índia, 5 Ago 2020 (AFP) - O primeiro-ministro indiano Narendra Modi lançou, nesta quarta-feira (5), a construção de um polêmico templo em um local marcado por tensões religiosas, sinal de um novo avanço do nacionalismo hindu no país.

A data escolhida para este evento coincide com o primeiro aniversário da revogação forçada da autonomia da Caxemira indiana, uma região de maioria muçulmana, outra das promessas dos nacionalistas hindus quando chegaram ao poder em 2014.

A construção de um templo hindu dedicado ao deus Ram na cidade de Ayodhya (norte) e a mudança de status da Caxemira reforçam o projeto político do nacionalismo hindu, que se distancia cada vez mais da ideia de um país laico e multirreligioso que passou a existir depois independência em 1947.

Usando máscara de proteção, Narendra Modi, de 60 anos, participou da cerimônia religiosa em Ayodhya para comemorar o início da construção do templo.

"Não apenas a humanidade, mas todo o universo, todos os pássaros e animais, são cativados por esse momento de ouro", cantou um religioso durante essa cerimônia que foi transmitida pela televisão nacional do país de 1,3 bilhão de habitantes.

Após anos de polêmica, o destino do templo Ayodhya foi decidido em novembro passado pela Suprema Corte.

Os juízes designaram este local, onde estão localizadas as ruínas de uma mesquita destruída por extremistas hindus, para construir um templo hindu e ordenaram que outras terras fossem fornecidas à minoria muçulmana.

- Campanha nacionalista -Este local de 1,1 hectare no estado de Uttar Pradesh é reivindicado há vários anos por grupos hindus como o berço do deus Ram.

Há muito tempo, tais grupos exigem a construção de um templo em sua homenagem.

Segundo eles, o imperador muçulmano Babur construiu no local, no século XVI, a mesquita Babri, destruindo um antigo templo dedicado ao deus Ram.

A campanha sobre Ayodhya, incentivada pelos nacionalistas hindus desde os anos 1980, culminou na destruição da mesquita de Babri em 6 de dezembro de 1992.

Mais de 2.000 pessoas morreram nos confrontos religiosos que se seguiram à destruição, nos incidentes mais violentos desde o fim do império colonial britânico em 1947.

A construção do templo de Ram "não é apenas um templo novo, mas o sinal de que a estrutura constitucional fundamental da Índia está mudando", comentou à AFP o intelectual Pratap Bhanu Mehta.

Nilanjan Mukhopadhyay, biógrafo do primeiro-ministro indiano, acredita que Narendra Modi "ficará na história permanentemente graças a este templo".

Nesta quarta-feira também é o primeiro aniversário da revogação da autonomia da Cahemira indiana, onde há uma insurreição há anos.

Desde então, a região está dividida em dois territórios controlados pela capital.