Beau Biden, o 'fantasma' mais presente na campanha eleitoral americana
Washington, 2 Out 2020 (AFP) - Joe Biden voltou a prestar homenagem ao filho Beau, que morreu vítima de câncer em 2015, durante o primeiro debate presidencial para as eleições de 3 de novembro, mais um sinal do grande papel ele tem na campanha do candidato democrata para chegar à Casa Branca.
"Embora ele não esteja mais conosco, todos os dias ele continua a inspirar o próximo presidente dos Estados Unidos", anunciou uma voz em off na Convenção Nacional Democrata, quando o ex-vice-presidente aceitou formalmente a indicação do partido em agosto.
Desde que Beau Biden morreu em 2015, aos 46 anos, vítima de câncer cerebral, o pai cita seu nome, emocionado, em quase todas as oportunidades. E as homenagens se tornaram mais intensas recentemente, depois de um artigo na imprensa que acusou Donald Trump de chamar de "perdedores" os soldados americanos mortos em combate.
Procurador-geral do estado de Delaware (2007 a 2015), reservista do Exército enviado ao Iraque, Beau Biden cogitou durante algum tempo a ideia de tentar suceder ao pai no Senado e parecia destinado a atuar na política nacional.
"Meu filho (...) não foi um perdedor", disse Joe Biden, elevando a voz, no debate de terça-feira em Cleveland, Ohio.
- "E Hunter?" -Mas, após a simples menção do falecido filho, com uma imagem idealizada, o presidente republicano imediatamente respondeu e citou seu irmão, de vida mais atribulada: "Está falando de Hunter?".
Aos 50 anos, este advogado e assessor se encontra no centro do caso que rendeu a Trump um histórico processo de impeachment. Os democratas acusaram o presidente dos Estados Unidos de abusar de seu cargo, ao pressionar a Ucrânia para que investigasse os negócios de Hunter Biden, quando seu pai era vice-presidente de Barack Obama.
Trump foi absolvido no Senado, mas continua insistindo em que Biden e seu filho são "corruptos", por terem permitido que este último usasse seu nome para obter contratos lucrativos. Além da acusação, Trump mencionou, na terça-feira, o uso de drogas - algo que o próprio Hunter já admitiu.
Indignado, o democrata respondeu para milhões de americanos que enfrentam problemas similares em suas famílias: "Ele superou. E estou orgulhoso dele".
Para continuar com suas homenagens, Joe Biden apareceu diante dos jornalistas com um boné com o nome da fundação Beau Biden, que luta contra o abuso infantil.
- "Orgulhoso de mim?" -Joe Biden não esconde: a influência de Beau continua sendo imensa. Sua morte o fez hesitar por um longo tempo, sob o peso do luto, a entrar nas primárias democratas de 2015-2016, algo que ele acabou descartando.
Candidato desta vez, o ex-vice de Obama afirmou em janeiro, tentando conter as lágrimas: "Beau deveria ser o candidato à Presidência, não eu. Todas as manhãs eu levanto e (...) me pergunto: 'Está orgulhoso de mim?'".
A escolha de sua candidata a vice, a senadora Kamala Harris, pode ter sido influenciada por Beau.
"Meu filho tinha um imenso respeito por ela e por seu trabalho", declarou Joe Biden, pouco depois da indicação. Ambos foram procuradores durante a crise financeira de 2007-2009.
- "Beau, é sua vez" -A morte de Beau não foi a primeira tragédia familiar de Joe Biden. Em 1972, quando acabara de ser eleito senador, sua esposa e filha morreram em um acidente de trânsito. Os dois filhos ficaram feridos, e o democrata assumiu sua vaga no Senado ao lado do leito de hospital.
Depois, passou a viajar com frequência de trem entre Washington e a cidade de Wilmington, Delaware, quatro horas a cada oportunidade, para criar os filhos. Aqueles anos uniram profundamente a família.
"Uma das minhas primeiras lembranças é estar no hospital. Papai sempre ao nosso lado", disse Beau na Convenção Democrata de 2008, o que levou Joe e sua esposa, Jill Biden, às lágrimas.
Foi novamente Beau que, em 2012, apresentou o companheiro de chapa de Obama no palco da Convenção Democrata. "Meu pai, meu herói: Joe Biden".
Em agosto, apesar da morte, ele voltou a ocupar um lugar de honra na convenção, desta vez por ocasião da candidatura de seu pai à Casa Branca.
"Queríamos dar a Beau a última palavra", disse Hunter, ao apresentar um trecho do discurso de seu irmão de 2012.
A irmã Ashley, filha de Joe e Jill Biden, completou: "Beau, é sua vez".
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