Mesa e Arce encerram polarizada campanha eleitoral na Bolívia
La Paz, 14 Out 2020 (AFP) - O candidato de esquerda, Luis Arce, finalizou, nesta quarta-feira (14), seus compromissos de campanha para as eleições do próximo domingo na Bolívia, um dia depois de seu rival centrista, Carlos Mesa, convocar a população a "derrotar definitivamente" o projeto socialista de Evo Morales, padrinho político do adversário.
O ex-presidente Mesa e Arce são os únicos dos seis candidatos em disputa com chances de vitória segundo as pesquisas, embora seja possível que a briga seja definida em um segundo turno, no dia 29 de novembro.
"A gente sente, Lucho presidente", gritava a multidão, que agitava bandeiras azuis e máscaras do partido Movimento ao Socialismo (MAS) para prevenir o contágio do novo coronavírus. O comício de encerramento foi celebrado em El Alto, cidade vizinha de La Paz e tradicional reduto eleitoral de Morales.
"Este é o povo. Chega de humilhação, chega de insultos, chega de discriminação", afirmou o líder da Central Operária Boliviana, Juan Carlos Huarachi, em um discurso.
Arce, de 57 anos, tem como bandeira o boom econômico e a redução da pobreza durante o governo Morales, quando foi ministro da Fazenda.
A campanha eleitoral boliviana foi marcada pela polarização entre os partidários e os opositores de Morales - amigo leal de Cuba e da Venezuela - que do seu exílio na Argentina defende que Arce é "uma garantia de estabilidade, crescimento econômico e redistribuição das riquezas".
As eleições também renovarão todo o Congresso boliviano, agora controlado pelo partido de Morales.
- "Evo nunca mais" -O ex-presidente de centro Mesa, que governou entre 2003 e 2005, encerrou sua campanha na terça-feira à noite na cidade de Santa Cruz, a mais importante da região mais rica da Bolívia, onde convocou seus compatriotas a votarem nele para impedir que o MAS de Morales e Arce volte ao poder.
"Somos os únicos que podem derrotar definitivamente Morales e Arce, porque Arce nada mais é do que Morales, e Morales 'never in the life' (nunca mais na vida)", declarou Mesa, em um comício colorido e turbulento, diante dos seguidores de seu partido.
"Primeiro (somos) um projeto de futuro, o único projeto de futuro viável é a Comunidade Cidadã, um projeto, um programa com sentido de Estado, que é o que a Bolívia precisa hoje mais do que nunca", acrescentou o ex-presidente de 67 anos, vestido com camisa laranja e boné, nas cores de sua formação política.
O evento ao ar livre contou com a presença de centenas de pessoas usando máscaras como medida de biossegurança em meio à pandemia do coronavírus.
Mesa decidiu encerrar sua campanha em Santa Cruz ao invés de La Paz, em uma aparente tentativa de conquistar votos do direitista Luis Fernando Camacho, líder de um comitê cívico local que ganhou notoriedade há um ano nos protestos que levaram à renúncia de Morales depois de 14 anos no poder.
Camacho, um advogado de 41 anos que aparece em terceiro lugar nas pesquisas, fez campanha nesta quarta-feira à tarde com uma "grande caravana" de motos e carros pelas ruas de Santa Cruz, quase ao mesmo tempo em que Arce realizava seu comício em El Alto.
- "Que os resultados sejam respeitados" -Quatro missões de observação internacional farão o monitoramento quanto a transparência das eleições, que substituirão o resultado das eleições de 20 de outubro de 2019, anuladas após denúncias de fraude a favor da reeleição de Morales.
"Fizemos um apelo geral para que os resultados sejam respeitados", declarou Francisco Guerrero, da missão da Organização dos Estados Americanos (OEA), após uma visita para se encontrar com a presidente interina, Jeanine Áñez, nesta quarta-feira.
As demais missões são da União Europeia, do Carter Center e da Association of Electoral Bodies of America.
Na noite das eleições de 2019, uma contagem preliminar de votos foi interrompida e, ao ser retomada um dia depois, houve um aumento considerável na liderança de Morales no resultado.
A missão da OEA expressou então sua preocupação com a mudança, que descreveu como "drástica" e "difícil de explicar".
A oposição boliviana não aceitou os resultados e protestos eclodiram, fazendo com que em três semanas Morales renunciasse, sendo substituído por Áñez.
Para as eleições deste domingo, novos magistrados foram nomeados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que analisou o cadastro eleitoral de 7,3 milhões de cidadãos.
"Enxergamos esse processo eleitoral com confiança", disse José Antonio de Gabriel, um dos enviados pelo Carter Center dos Estados Unidos, após encontro nesta quarta-feira com o presidente do TSE, Salvador Romero.
De Gabriel destacou que apesar da complexidade de "realizar um processo eleitoral em tempos de coronavírus, todo o país está habituado às medidas de biossegurança" e os casos não devem aumentar.
A Bolívia se aproxima dos 139.000 casos da covid-19, com mais de 8.300 mortos.
Romero, por sua vez, prometeu uma "política de portas abertas" para a apuração dos votos e ressaltou que "os cidadãos poderão ter acesso às fotografias das cédulas" de cada seção eleitoral.
A Constituição declara vencedor no primeiro turno o candidato que obtiver maioria absoluta ou 40% dos votos com 10 pontos de vantagem sobre o segundo turno. Caso contrário, deve haver um segundo turno entre os dois mais votados.
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