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Pandemia marca cerimônia no Vaticano para posse de 13 cardeais

27/11/2020 11h15

Cidade do Vaticano, 27 Nov 2020 (AFP) - O papa Francisco realizará, no sábado (28), um consistório sem precedentes de investidura de 13 novos cardeais, no qual alguns prelados receberão o título de cardeal por meio de uma plataforma on-line, devido à pandemia, e os presentes desfrutarão uma cerimônia sóbria com poucos convidados no Vaticano.

Pelo menos dois dos 13 novos cardeais, dos quais nove terão direito a voto em eventual conclave, receberão o barrete e o anel cardeal em seu país, das mãos de um representante do papa, em cerimônia que ocorrerá simultaneamente pela Internet.

É uma situação extraordinária, em função da pandemia do coronavírus, que impediu vários dos novos cardeais de viajarem para o Vaticano para participar da imponente cerimônia.

"Eles poderão participar da celebração a partir de suas próprias sedes, por meio de uma plataforma digital que permitirá sua conexão com a Basílica do Vaticano", informou o Vaticano.

Além disso, as chamadas "visitas de cortesia" para felicitar os novos cardeais no palácio apostólico, os abraços entre cardeais e, especialmente, a emblemática imposição do barrete cardinalício pelo pontífice foram cancelados devido à pandemia.

São medidas de segurança mais do que necessárias, porque a maioria dos novos cardeais tem mais de 70 anos, idade de risco de infecção, segundo os médicos.

Cerca de 100 pessoas poderão assistir à cerimônia e, no dia seguinte, os novos cardeais irão concelebrar uma missa.

- Chile e México -Os 13 novos cardeais são seis italianos, um mexicano, um maltês, um espanhol, um americano, um filipino, um ruandês e um de Brunei.

A lista inclui o arcebispo de Santiago do Chile, o espanhol residente nesse país, Celestino Aós, e o bispo emérito de San Cristóbal de las Casas (México), o mexicano Felipe Arizmedi Esquivel.

Esses dois novos cardeais participarão da cerimônia no Vaticano, para a qual viajaram para a Itália e tiveram de cumprir uma quarentena de dez dias e passar por testes de diagnóstico.

O papa latino-americano, que costuma dar muita atenção à sua região, quis reconhecer o arcebispo de Santiago do Chile, encarregado da delicada tarefa de renovar a igreja naquele país após a renúncia em 2018 dos 34 bispos do Chile. A renúncia se deu em meio a escândalos de abusos cometidos por padres e do encobrimento deste tipo de crime pelo clero.

Já o bispo mexicano, de 80 anos, que por idade não poderá participar do futuro conclave, foi designado "príncipe da Igreja" por seu trabalho na região de Chiapas, a mais pobre do México.

"Nossa quarentena termina na sexta-feira, dia 27, às 12 horas (...) Nessa hora, eles vão nos fornecer outro teste de covid, que esperamos que seja negativo, porque estamos muito trancados", escreveu Arizmendi na página Religião Digital.

"Depois disso, poderemos sair do nosso quarto e da casa. Vou aproveitar para pegar a nova batina", confessou.

- Cardeais "fora do comum" -No sábado, o papa também nomeará o arcebispo de Washington, Wilton Gregory, tornando-o o primeiro cardeal negro dos Estados Unidos.

O religioso é conhecido por suas posições progressistas a favor dos homossexuais.

Entre os novos cardeais estão também o arcebispo de Kigali, em Ruanda, Antoine Kambnada, representante de um dos países mais afetados pela guerra e pela fome, além de monsenhor Cornelius Sim, o primeiro cardeal na história da pequena nação de Brunei.

"Ele escolheu personalidades fora do comum", disse o vaticanista Iacopo Scaramuzzi.

"O pontífice está equilibrando o Colégio de Cardeais com novos critérios, independentemente dos grupos de poder interno e de acordo com a população católica", explicou Scaramuzzi em um recente programa de rádio.

Entre as nomeações mais emblemáticas também estão as de dois simples religiosos italianos: o romano Augusto Paolo Lojudice, "Dom Paolo", atual arcebispo de Siena e conhecido por sua defesa dos ciganos da capital, e o sacerdote franciscano Mauro Gambetti, guardião do Santo Convento de Assis, a cidade de São Francisco, o santo dos pobres.

Assim, o Colégio Cardinalício será composto por 229 Cardeais, dos quais 128 serão eleitores em um futuro conclave e 101 com mais de 80 anos. O papa argentino "criou", segundo o termo religioso, 95 cardeais em quase oito anos de pontificado.

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