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'Algum avanço' nas negociações pós-Brexit, mas diferenças persistem

Desde que Londres saiu da UE em 31 de janeiro, as duas partes negociam um acordo sobre as relações a partir de 2021 - PA Media via BBC
Desde que Londres saiu da UE em 31 de janeiro, as duas partes negociam um acordo sobre as relações a partir de 2021 Imagem: PA Media via BBC

14/12/2020 16h54

As negociações entre Reino Unido e União Europeia (UE) por sua relação pós-Brexit tiveram "algum avanço", mas as diferenças que impedem um acordo persistem, enquanto as equipes mantêm o diálogo nesta segunda-feira (14), em Bruxelas, para evitar uma ruptura.

O principal negociador da UE, o francês Michel Barnier, apresentou nesta segunda-feira um panorama do estado atual das negociações aos embaixadores europeus na UE e, em separado, aos integrantes de uma comissão especial do Parlamento Europeu.

Diferentes fontes consultadas pela AFP indicaram que, na reunião com os diplomatas, Barnier afirmou que pequenos avanços foram alcançados, mas que ainda há diferenças a serem superadas para se chegar a um acordo.

Uma destas fontes disse à AFP que se avança "a pequenos passos" e que os entendimentos ainda são "frágeis".

Desde que Londres saiu da UE em 31 de janeiro, as duas partes negociam um acordo sobre as relações a partir de 2021. Até agora, no entanto, foram incapazes de chegar a um entendimento geral.

As negociações ficaram travadas em três temas críticos: o acesso de barcos pesqueiros europeus às águas britânicas, regras de concorrência para acesso de empresas britânicas ao mercado da UE e a gestão legal da futura relação, especialmente o mecanismo de solução de controvérsias.

Em sua reunião, Barnier teria explicado aos embaixadores que as negociações permitiram avançar em um "princípio de acordo" sobre o mecanismo de solução de controvérsias, embora os europeus desejem fortalecê-lo.

"Ainda não chegamos aonde queremos, mas houve progressos", disse uma fonte.

Já sobre a delicada questão pesqueira, as negociações não teriam avançado o suficiente para alimentar otimismo.

"Ainda estamos muito longe", comentou outro dos diplomatas consultados.

Um deles disse à AFP que, "se houver avanços sobre a questão pesqueira, pode haver um acordo nos próximos dias".

Outra fonte europeia comentou que "pode ser que um caminho estreito para um acordo esteja à vista, se os negociadores conseguirem remover os últimos obstáculos nos próximos dias".

"A verdadeira data do final é a véspera de 1º de janeiro, embora as duas partes entendam a necessidade de ter resultados nos próximos dias", destacou no RTE o premier irlandês, Micheal Martin, cujo país seria duramente afetado por um "no deal".

"Há movimento"

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, expressou nesta segunda-feira um otimismo moderado ao falar em Paris em um evento pelo 60º aniversário da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

"Há movimento. E isso é bom", disse a alemã. "Estamos falando de um novo começo com um velho amigo. Estamos tentando avançar uma última etapa, mas é uma etapa crucial", acrescentou.

Em Londres, um porta-voz do governo disse que um colapso das negociações é "um resultado possível" e acrescentou que "não temos detalhes de eventuais progressos" na questão da pesca ou regras de concorrência.

"Deixamos claro que deixaremos o período de transição no fim deste ano. Nesse momento, nos tornaremos um Estado costeiro independente, que terá total controle sobre suas áreas de pesca", afirmou a fonte.

Von der Leyen e o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, anunciaram na noite de quarta-feira que a decisão final sobre o destino das negociações seria adotada no domingo. No entanto, a decisão foi... continuar negociando.

A nova fase de diálogo não tem um prazo específico, mas as equipes têm apenas 18 dias para definir um acordo que ainda deverá ser ratificado antes de entrar em vigor.

Após o anúncio da continuidade do diálogo, Johnson disse em Londres que "o mais provável agora" é que o esforço da negociação termine em um fiasco.

"Preciso reiterar que o mais provável agora é, obviamente, que devemos nos preparar para (cortar laços definitivamente com a UE no final do mês e para) os termos da Organização Mundial do Comércio", disse o líder conservador.

O secretário francês para Assuntos Europeus, Clément Beaune, disse, por sua vez, não esperar que as negociações passem além "da próxima semana".

O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas, disse nesta segunda que as negociações entre britânicos e europeus devem continuar "enquanto um acordo pós-Brexit for possível".

"Enquanto for possível um acordo, continuaremos a negociar e, ao mesmo tempo, continuaremos a fortalecer os planos de emergência" para lidar com um possível Brexit sem acordo, afirmou Maas, cujo país preside o Conselho da União Europeia até o final do ano.

Na manhã desta segunda, Barnier defendeu no Twitter a continuidade das negociações em Bruxelas.

"É nossa responsabilidade dar a estas conversações cada oportunidade de êxito. Nunca antes um acordo tão amplo (...) foi negociado de forma tão transparente e em tão pouco tempo", afirmou.