UE pede à Turquia para aceitar "urgentemente" os migrantes devolvidos pela Grécia
Ile de Lesbos, Grèce, 29 Mar 2021 (AFP) - A comissária europeia Ylva Johansson pediu nesta segunda-feira (29) para que a Turquia recebesse os migrantes não aceitos pela Grécia, anunciando que a União Europeia destinará 276 milhões de euros para construir novos campos de refugiados nas ilhas gregas.
A responsável europeia pelos Assuntos Internos viajou para a ilha grega de Lesbos nesta segunda-feira para pressionar o governo grego a acelerar a abertura de novas instalações nas ilhas de Samos, Chios, Kos e Lesbos, antes do inverno. E para melhorar as condições de recepção de 14.000 solicitantes de asilo.
"Peço à Turquia que retome com urgência (a admissão) de migrantes devolvidos pela Grécia", afirmou Johansson, de Lesbos.
O ministro grego da Migração, Notis Mitarachi, lembrou nesta segunda-feira que Atenas pediu a Ancara para readmitir 1.450 migrantes aos quais foi negado o direito de asilo.
Um acordo assinado em 2016 entre a UE e Ancara prevê o retorno de migrantes irregulares das ilhas gregas para a Turquia.
Em troca, a UE prometeu EUR 6 bilhões para ajudar a Turquia a acolher esses refugiados, dos quais EUR 4,1 bilhões foram pagos, de acordo com a Comissão Europeia.
A declaração conjunta UE-Ancara foi assinada após a "crise migratória" de 2015, quando a Europa recebeu 1,2 milhão de pessoas, a maioria fugindo da guerra na Síria.
Precisamente a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o titular do Conselho Europeu, Charles Michel, irão à Turquia no dia 6 de abril para um encontro com o presidente Recep Tayyip Erdogan.
- Uma questão europeia -Nesta segunda-feira, em Lesbos, a comissária europeia ressaltou ainda que "a questão migratória teria de ser europeizada" e não deixar os países que fazem fronteira com o bloco sozinhos na gestão desta crise.
Na ilha de Lesbos, cerca de 300 moradores manifestaram-se em frente ao hotel onde estava ocorrendo a coletiva de imprensa de Johansson, para se opor à criação de um novo campo.
"Não às estruturas da ilha, deixem a Europa assumir a responsabilidade", lia-se em um cartaz durante a chegada da comissária e do ministro grego das Migrações.
Notis Mitarachi afirmou recentemente à AFP que o campo de Samos seria aberto antes do final do primeiro semestre de 2021, e os outros antes de dezembro de 2021.
O governo prometeu construir um novo campo para substituir o de Moria, destruído por um incêndio em setembro. Mas a iniciativa encontrou oposição de vizinhos e autoridades locais, cansados da presença de migrantes na ilha desde a crise migratória de 2015.
O novo acampamento de Lesbos é previsto para a comuna de Pali, a meia hora de estrada da capital da ilha, Mitilene.
Desde o incêndio em Moria, cerca de 8.000 migrantes sobreviveram em uma instalação temporária construída às pressas após o incidente.
A comissária europeia também apelou à "Grécia a fazer mais" e a investigar as acusações de devolução de migrantes pela guarda costeira grega no Mar Egeu.
A Grécia endureceu sua política migratória com a chegada ao poder do primeiro-ministro conservador, Kyriakos Mitsotakis, em 2019.
Grupos de defesa aos Direitos Humanos acusam Atenas de devolver repetidamente os barcos com migrantes a bordo, violando a lei internacional, algo que o governo grego nega.
"Não devolvemos os barcos. Evitamos que eles entrassem em território europeu e grego, algo que os regulamentos permitem", argumentou Mitarakis em uma entrevista em março para a AFP.
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