Europol alerta para covid-19 e cocaína na Europa
Haia, 12 Abr 2021 (AFP) - A pandemia de coronavírus pode alimentar o crime organizado por anos na Europa, um continente que já está em um "ponto de ruptura" devido a uma avalanche de cocaína procedente da América Latina, alertou a agência policial da União Europeia.
Em seu relatório publicado de quatro em quatro anos, a Europol observa que é provável que os grupos criminosos, cada vez mais violentos, assumam o controle de negócios legítimos, vulneráveis pelas consequências econômicas da covid-19.
Os criminosos também estão oferecendo vacinas e testes de coronavírus falsos, em uma tentativa de capitalizar os esforços globais contra o vírus, disse a agência com sede em Haia.
"Estamos em um ponto de ruptura", afirmou a diretora da Europol, Catherine De Bolle, em uma entrevista à AFP.
"O impacto na vida dos cidadãos, na economia e no Estado de Direito é muito grande", ressaltou.
O relatório 'Serious and Organised Crime Threat Assessment' (Avaliação da Ameaça do Crime Grave e Organizado), de 87 páginas, é publicado a cada quatro anos e é usado pelos Estados da UE para definir prioridades de combate ao crime até 2025.
"Uma pandemia prolongada exercerá forte pressão sobre as economias europeia e global" e a recessão prevista "pode condicionar o crime organizado e grave nos próximos anos", afirma o relatório.
- "Níveis sem precedentes" de cocaína -A Europol destaca, em particular, que o tráfico de drogas alimenta a corrupção em toda a UE.
De acordo com a agência, "o tráfico de cocaína da América Latina para a UE atinge níveis sem precedentes, gerando lucros multimilionários" para criminosos na Europa e na América.
A pureza da cocaína que chega à Europa é "a mais elevada já registada na UE".
O tráfico de cocaína "alimenta empresas criminosas que usam seus enormes recursos para se infiltrar e minar a economia da UE, as instituições públicas e a sociedade", segundo a Europol.
Em batidas policiais em grandes portos da UE, como Antuérpia, Hamburgo e Roterdã, foram feitas apreensões recordes, como um carregamento de 23 toneladas de cocaína realizado pelas polícias holandesa e alemã no final de fevereiro.
O comércio também aumenta os níveis de violência e os criminosos muitas vezes "não têm medo de usar armas, granadas de mão e tortura", segundo De Bolle.
Mas o surgimento da pandemia de coronavírus no ano passado teve um impacto ainda maior na forma como as gangues organizadas operam, de acordo com a Europol.
Os negócios enfraquecidos pela pandemia podem se tornar presas fáceis para gangues que querem legitimar seus crimes ou usar empresas legais para atividades ilegais, como lavagem de dinheiro, aponta a agência.
- Comércio de vacinas falsas -A pandemia também levou os criminosos a se adaptarem.
"Nos estágios iniciais, vimos um aumento no comércio de máscaras e desinfetantes para as mãos falsos. Agora vemos um aumento no comércio de vacinas falsas e kits de teste caseiros", disse De Bolle à AFP.
"Essas vacinas [falsas] são um risco à saúde. Elas não devem ser compradas", lembrou.
A pandemia também aumentou o crime cibernético, à medida que as restrições em muitos países forçam as pessoas a viver e trabalhar mais online.
"As infraestruturas críticas continuarão a ser alvo de cibercriminosos nos próximos anos. Isso representa um risco significativo", de acordo com a Europol.
Em janeiro, a polícia internacional desmantelou a EMOTET, descrita como a ferramenta do crime cibernético "mais perigosa do mundo", usada para invadir sistemas informáticos.
Respondendo à questão de saber se as forças de segurança estavam perdendo a batalha contra os criminosos, De Bolle disse que "têm que apostar em ações conjuntas, novas políticas e repensar a forma como trabalham". "Só as apreensões não são suficientes", afirmou.
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