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Irã diz que enriquecimento de urânio a 60% é resposta ao 'terrorismo' nuclear de Israel

14/04/2021 17h02

Teerã, 14 Abr 2021 (AFP) - O presidente do Irã, Hassan Rohani, afirmou nesta quarta-feira (14) que a decisão de seu país de elevar a 60% o enriquecimento de urânio é uma resposta ao "terrorismo nuclear" de Israel contra a central de Natanz.

Teerã anunciou na terça-feira que elevaria o limite máximo de suas atividades de enriquecimento de urânio 235 de 20% a 60%, o que aproximaria a República Islâmica dos 90% necessários para conseguir urânio de uso militar.

Enquanto prosseguem as negociações em Viena para tentar salvar o acordo nuclear iraniano de 2015, o presidente Hassan Rohani reafirmou nesta quarta que as ambições atômicas de seu país são exclusivamente "pacíficas".

França, Alemanha e Reino Unido, os países europeus signatários do acordo de Viena, afirmaram, no entanto, que o anúncio do Irã representa uma "grande preocupação, pois a produção de urânio enriquecido a níveis elevados representa uma etapa importante para a produção de uma arma nuclear, o que é contrário ao espírito construtivo e à boa fé das negociações".

O chefe da diplomacia iraniana, Mohammad Javad Zarif, escreveu no Twitter que a única forma de sair da "perigosa espiral" após a explosão de Natanz é acabar com o "terrorismo econômico" do ex-presidente americano Donald Trump.

Ao retirar seu país do acordo de Viena, Trump reativou as sanções contra o Irã, que deixaram o país em uma violenta recessão.

O Irã está disposto a retomar o diálogo, mas "temos que ter cuidado" para que as partes envolvidas "não arrastem as negociações de forma prejudicial ao país", alertou o guia supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei.

Teerã afirmou que a produção de urânio enriquecido a 60% deve começar na "próxima semana" (ou seja, a partir de sábado) na central de Natanz, afetada pela explosão de domingo.

As autoridades iranianas, que inicialmente informaram sobre um "incidente" que provocou uma "falha elétrica", revelaram poucos detalhes sobre os danos, mas um número indeterminado de centrífugas (utilizadas para enriquecer urânio) parecem ter ficado danificadas.

O jornal New York Times informou que os israelenses participaram na operação, que aconteceu com a ajuda de uma bomba introduzida "clandestinamente" na central.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, é um firme opositor do acordo de Viena.

Ele afirma que a República Islâmica - cujo líder supremo, Ali Khamenei, chama Israel de "tumor cancerígeno maligno que deve ser erradicado" - representa uma ameaça à existência de seu país.

Netanyahu acusa o Irã de buscar o desenvolvimento secreto de uma bomba atômica, algo que Teerã sempre negou, e alega que o acordo de Viena deixa seu país em perigo.

Especialistas acreditam que Israel é o único Estado com a bomba atômica no Oriente Médio.

A decisão de enriquecer urânio a 60% é "a resposta para sua maldade", disse Rohani em um conselho de ministros.

"O que fizeram se chama terrorismo nuclear, o que nós fazemos é legal", completou.

"Por cada crime, cortaremos suas mãos", advertiu Rohani, enquanto a escalada entre Irã e Israel preocupa cada vez mais a comunidade internacional.

Desde março foram registrados ataques contra navios israelenses e iranianos.

- "Produtos radiofarmacêuticos" -A Arábia Saudita, grande rival do Irã no Oriente Médio, afirmou que acompanha com preocupação a situação e pediu a Teerã que "evite a escalada".

Inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) tiveram acesso nesta quarta-feira à central de Natanz, informou o organismo da ONU.

A organização confirmou que o Teerã "praticamente terminou os preparativos para começar a produzir urânio enriquecido a 60%" .

O Irã afirma que precisa do urânio enriquecido a 60% para produzir mais e melhores "produtos radiofarmacêuticos".

Em resposta ao retorno das sanções contra o Irã retomadas por Trump, o país deixou de cumprir em 2019 a maioria dos compromissos do pacto de Viena de 2015.

Robert Kelley, ex-diretor de inspeções da AIEA, considera o enriquecimento a 60% "uma provocação", mas que "não é suficiente" para desenvolver uma arma atômica.

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