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Vaticano julgará cardeal e seus acólitos por investimentos fraudulentos

03/07/2021 14h55

Cidade do Vaticano, 3 Jul 2021 (AFP) - O Vaticano anunciou neste sábado (3) o encaminhamento de dez pessoas, incluindo um cardeal influente, ao tribunal penal pelo financiamento opaco, por meio de empresários italianos, de um edifício de luxo em Londres.

O cardeal Angelo Becciu, um dos mais influentes do Vaticano e colaborador próximo do papa Francisco, comparecerá ao tribunal da Santa Sé a partir de 27 de julho, segundo um comunicado do Vaticano.

Becciu, de 73 anos, é processado por desvio de fundos, abuso de poder e suborno de testemunhas neste caso, cujos primeiros elementos começaram a aparecer na imprensa italiana em setembro de 2019.

Em um comunicado divulgado neste sábado, o cardeal disse ser "vítima de uma conspiração" e reivindicou sua "inocência absoluta".

O influente cardeal era o número dois na Secretaria de Estado, a administração central da Santa Sé, quando o processo de compra do edifício em Londres começou em 2014.

Entre os outros acusados, estão o suíço René Brüllhart, ex-presidente da Autoridade de Informação Financeira (AIF), o gendarme financeiro da Santa Sé, que deve responder por abuso de poder.

Dom Enrico Crasso, antigo gestor de patrimônio reservado do Secretário de Estado, também será julgado por extorsão e abuso de poder, um maná de várias centenas de milhões de euros proveniente em grande parte de doações particulares à Santa Sé.

O investimento relacionado ao escândalo é um edifício no elegante bairro londrino de Chelsea, de 17.000 m2, transformados em cerca de cinquenta apartamentos de luxo.

A primeira participação no projeto foi em 2014 por meio de um fundo de Luxemburgo administrado pela holding Raffaele Mincione.

A opaca gestão financeira, via Suíça e Luxemburgo, levou o Vaticano quatro anos depois a pôr fim a ela, comprando todo o edifício de Londres.

O preço do edifício foi supervalorizado, com intermediários gananciosos e somas consideráveis virando fumaça. Com outros investimentos duvidosos, o prejuízo ao Vaticano chegaria a várias centenas de milhões de euros, segundo a imprensa italiana.

Em novembro de 2019, o papa Francisco admitiu à imprensa a existência de um "escândalo" de corrupção dentro do Vaticano. "Fazíamos coisas que não eram limpas", lamentou o pontífice.

O processo do prédio de Londres "está diretamente ligado às diretrizes e reforma de Sua Santidade, o papa Francisco, em favor da transparência e da consolidação das finanças do Vaticano", disse a Santa Sé neste sábado.

O papa argentino foi eleito em 2013 para pôr ordem nas finanças do Vaticano, uma reforma difícil que encontrou resistência dentro de alguns "dicastérios" (ministérios) que administram os fundos de maneira muito autônoma e não muito transparente.

Em 2017, ele observou que "reformar" a Cúria Romana (governo do Vaticano) significava "limpar a esfinge egípcia com uma escova de dentes".

Para tal, criou em 2014 o todo-poderoso Secretariado da Economia, limpou o outrora sulfuroso banco do Vaticano, onde 5.000 contas suspeitas foram encerradas em 2015, supervisionou as licitações para as despesas internas e confiou à Administração do Patrimônio da Sé Apostólica (Apsa) a gestão dos orçamentos das numerosas administrações vaticanas.

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