Paulo Coelho oferece auxílio para festival de jazz 'antifascista'
Rio de Janeiro, 14 Jul 2021 (AFP) - O escritor Paulo Coelho se ofereceu, nesta quarta-feira (14), para financiar um festival de jazz que teve um pedido de recursos públicos rejeitado após se definir como "antifascista", em uma crítica ao governo de Jair Bolsonaro.
"A Fundação Coelho & Oiticica se oferece para cobrir os gastos do Festival do Capão", postou no Twitter o autor de "O Alquimista", morando em Genebra, que desde 2015 tem uma fundação juntamente com a sua esposa, a artista plástica Christina Oiticica.
Os recursos, solicitados por meio da Lei Rouanet de incentivo à cultura, chegam a 145 mil reais, afirmou.
A "única condição" desse apoio, acrescentou, é que o festival mantenha o sua missão "antifascista e pela democracia", como foi anunciado em publicação de 2020.
O Festival de Jazz do Capão, organizado desde 2010 na Chapada Diamantina, na Bahia, afirma que teve seu projeto rejeitado pelo governo pela primeira vez, por motivos "ideológicos".
Segundo os organizadores, a Fundação Nacional de Artes (Funarte) alegou em seu parecer técnico que a verba deveria ser negada, entre outros motivos, porque a realização do Festival destaca seu caráter "antifascista" e "a favor da democracia".
"Não podemos aceitar o fascismo, o racismo e qualquer forma de opressão e preconceito", afirmava uma publicação do Festival em junho de 2020, quando vários setores artísticos publicaram mensagens semelhantes em protesto ao governo.
Os organizadores relatam ainda que o parecer técnico da Funarte que justifica a recusa de entrega de dinheiro invoca a Deus em várias passagens.
"O objetivo e finalidade maior de toda música não deveria ser nenhum outro além da glória de Deus e a renovação da alma", diz o parecer, atribuindo a frase ao compositor alemão Johann Sebastian Bach (1685-1750), segundo os organizadores.
A Funarte disse à AFP que as análises de projetos relacionados à Lei Rouanet são realizadas em primeiro lugar por consultores da área técnica e que ainda não foi tomada uma "decisão final" sobre o pedido de recursos.
"Neste caso, o parecerista concluiu que haveria 'desvio do objeto'. Neste momento, o parecer segue para análise da Funarte e da Secretaria Especial da Cultura, que podem acatá-lo ou recusá-lo", acrescentou a instituição, que negou praticar qualquer tipo de censura.
Em seus dois anos e meio de mandato, Bolsonaro esteve em pé de guerra contra grande parte da classe artística, que o acusa de censura e retrocessos por promover uma luta contra o que chama de "marxismo cultural".
Entre os episódios mais marcantes dessa "guerra cultural" estão a renúncia de um secretário de Cultura que fez um discurso com referências ao ministro da propaganda nazista Joseph Goebbels e um presidente da Funarte que afirmou que o rock leva ao aborto e ao satanismo.
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