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Hazaras no Afeganistão, uma minoria perseguida que teme os talibãs

26/08/2021 09h48

Cabul, 26 Ago 2021 (AFP) - Minoria em grande parte xiita perseguida durante séculos no Afeganistão, os hazaras têm muito a perder com a chegada dos talibãs aos poder.

Eles temem ataques dos extremistas sunitas, como aconteceu na década de 1990, apesar da promessa, por parte dos talibãs, de que haverá maior tolerância com os antigos inimigos.

- Quem são os hazaras? -Procedentes do planalto central do país, os hazaras se apresentam como descendentes dos grupos mongóis de Genghis Khan que devastaram o Afeganistão no século XIII.

Apesar da ausência de estatísticas confiáveis, cálculos apontam que eles representam entre 10% e 20% dos 38 milhões de afegãos. Foram marginalizados pelos sunitas por serem de fé xiita, em sua maioria, em um país marcado por divisões religiosas e étnicas.

De acordo com algumas estimativas, quase metade da população hazara foi exterminada no fim do século XIX, quando seus territórios tradicionais foram conquistados pelos pashtuns sunitas.

Ao longo dos séculos, esta minoria foi submetida à escravidão, a perseguições religiosas, à limpeza étnica e a deslocamentos forçados.

Também foi vítima de diferentes grupos nas últimas quatro décadas de conflito. Na década de 1980, por exemplo, seus territórios foram bombardeados pelos mujahedines que lutavam contra os soviéticos.

Ao mesmo tempo, os combatentes hazaras foram acusados de cometerem atrocidades na guerra civil, após a retirada do Exército soviético em 1989.

Analistas acreditam que milhares deles foram executados pelos talibãs, quando estes últimos assumiram o controle do país no fim dos anos 1990.

- Por que são alvos de ataques? -Os hazaras constituem grande parte da minoria xiita do país, menosprezada pelos extremistas sunitas, que os consideram hereges.

Também são acusados de proximidade com o Irã xiita, para onde dezenas de milhares de hazaras viajaram em busca de trabalho.

Na última década, milhares de hazaras foram treinados pelas forças de segurança iranianas e integrados às milícias xiitas na Síria.

No ano passado, o ministro iraniano das Relações Exteriores, Javad Zarif, classificou os combatentes hazaras como a "melhor força" para ser mobilizada contra o grupo extremista Estado Islâmico (EI) no Afeganistão.

- Como a tomada de poder dos talibãs pode afetar os hazaras? -Poucas comunidades se beneficiaram tanto da mudança de situação após a intervenção dos Estados Unidos no país para derrubar o regime talibã anterior, no fim de 2001.

Há 20 anos, os hazaras podem levar seus filhos e filhas à escola e participam da vida política e econômica do país.

Estes avanços continuam sendo frágeis, porém.

Eles ainda são vítimas da escalada de violência no país. Vários atentados suicidas, às vezes reivindicados pelo EI, contra suas mesquitas, escolas, ou hospitais, no território hazara de Dasht-e-Barshi, em Cabul, deixaram centenas de mortos.

Nos últimos meses, com o temor de um massacre após a retirada das tropas internacionais em 31 de agosto, alguns membros desta comunidade começaram a retomar as armas. Uma milícia criada na província de Wardak (centro) recrutou e treinou novos combatentes.

Pouco depois da tomada de poder pelos fundamentalistas, a estátua de um político hazara, Abdul Ali Mazari, assassinado quando era prisioneiro dos talibãs em 1995, foi parcialmente demolida com explosivos na semana passada, em Bamiyan, centro do país.

O incidente reavivou o medo de que os novos líderes do países voltem a atacar os hazaras.

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