Países ocidentais alertam para risco de atentado no aeroporto de Cabul
Cabul, 26 Ago 2021 (AFP) - Vários países ocidentais pediram a seus cidadãos que abandonem imediatamente a área do aeroporto de Cabul, devido à ameaça terrorista contra o local, única porta de saída do país para milhares de afegãos que tentam, desesperados, embarcar nos últimos voos de retirada do Afeganistão.
Com a proximidade da data-limite estabelecida pelos Estados Unidos para abandonarem o país, 31 de agosto, os governos de França, Holanda e Bélgica anunciaram o fim das operações de repatriação a partir de Cabul, mesmo que isto signifique que algumas pessoas que teriam condições de deixar o Afeganistão ficarão para trás.
Além das complicações logísticas para a operação de retirada de milhares de pessoas concentradas no aeroporto desde que os talibãs retomaram o poder em 15 de agosto, agora há ameaças à segurança.
Estados Unidos, Reino Unido e Austrália divulgaram alertas simultâneos sobre o risco de ataques terroristas na área do aeroporto e pediram a seus cidadãos que não se aproximem do local.
O Departamento de Estado americano citou "ameaças de segurança", mas não revelou sua origem, nem a natureza.
O ministro da Defesa da Austrália, Andrew Hastie, declarou que o "risco de um ataque suicida com explosivos é muito elevado".
Nesta quinta-feira (26), o governo britânico afirmou que a ameaça é "grave e iminente", ao mesmo tempo em que pediu a seus cidadãos que evitem a área do aeroporto. Londres indicou que as operações de retirada não foram suspensas e que voos serão organizados ao longo do dia.
- Corrida contra o tempo -Apesar da situação caótica no aeroporto, 88.000 pessoas foram retiradas do país desde a criação de uma ponte aérea em 14 de agosto, véspera da entrada dos talibãs em Cabul e da tomada da cidade.
A multidão reunida no aeroporto provocou cenas de caos, e pelo menos oito pessoas faleceram no tumulto. Alguns afegãos que aguardam no local têm passaportes, vistos estrangeiros, ou reúnem condições para viajar, mas a maioria, não.
Vários países solicitaram aos Estados Unidos, em vão, o adiamento da retirada do Afeganistão para permitir a saída de todos os estrangeiros e afegãos sob sua proteção.
As operações devem terminar inclusive antes, para que os Estados Unidos consigam repatriar todo seu dispositivo militar que protege o aeroporto.
O primeiro-ministro francês, Jean Castex, anunciou a interrupção da operação na sexta-feira à noite, uma data-limite "imposta pelos americanos", de acordo com uma fonte oficial.
"É um momento doloroso, porque significa que, apesar do grande esforço do período recente, pessoas que reuniam condições para serem transportadas para a Holanda ficarão para trás", afirmaram os ministros holandeses das Relações Exteriores e da Defesa, Sigrid Kaag e Ank Bijleveld, respectivamente, ao informarem os últimos voos de retirada para esta quarta-feira.
Também hoje, a Turquia anunciou que começou a retirar seus mais de 500 soldados não combatentes deste território, o que parece descartar a possibilidade de que o país assuma a segurança do aeroporto de Cabul após a saída das tropas americanas.
- A ameaça do Estado Islâmico -Em uma reunião de cúpula virtual do G7 na terça-feira (25), o presidente americano, Joe Biden, apontou a "aguda" ameaça terrorista do braço regional do grupo extremista Estado Islâmico (EI), responsável por alguns dos ataques mais violentos no Afeganistão e no Paquistão nos últimos anos.
Em ambos os países, EI massacrou civis em mesquitas, santuários, praças e até hospitais, além de ter executado ataques contra muçulmanos de alas que considera hereges, incluindo os xiitas.
Embora EI e talibãs sejam sunitas de linha radical, os dois grupos são rivais.
O EI criticou o acordo entre EUA e Talibã que estabeleceu, em 2020, as diretrizes para a retirada das tropas estrangeiras e acusou os talibãs de abandonarem a causa jihadista.
Desde que o movimento assumiu o poder em Cabul, vários grupos jihadistas felicitaram o Talibã, mas não o EI.
Em seu retorno ao poder, os talibãs prometeram uma mudança, em comparação com o regime imposto entre 1996 e 2001, quando aplicaram uma interpretação muito rigorosa e radical da lei islâmica.
Apesar da oposição radical à extensão do prazo para a retirada das tropas estrangeiras do aeroporto, o Talibã se comprometeu a permitir a saída dos estrangeiros e afegãos em situação de risco após 31 de agosto.
"Os talibãs se comprometeram, em público e em privado, a administrar e a permitir uma passagem segura para americanos, outros estrangeiros e afegãos em risco no futuro, depois de 31 de agosto", afirmou o secretário de Estado americano, Antony Blinken.
Muitos afegãos temem, porém, o retorno ao regime anterior, com represálias violentas contra os que trabalharam para militares estrangeiros, para missões ocidentais, ou para o governo anterior.
A preocupação é ainda maior entre as mulheres, que foram proibidas de estudar e de trabalhar entre 1996 e 2001. Durante o governo anterior dos talibãs, elas eram autorizadas a sair da casa apenas com um acompanhante masculino.
kma-fox/mas/gm/dbh/bl/fp/tt
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