Topo

Esse conteúdo é antigo

Talibãs voltam a entregar passaporte no Afeganistão

15.08.2021 - Afegãos formam fila em Cabul para atualizar passaportes e deixar o país durante avanço do Talibã - Paula Bronstein /Getty Images
15.08.2021 - Afegãos formam fila em Cabul para atualizar passaportes e deixar o país durante avanço do Talibã Imagem: Paula Bronstein /Getty Images

18/12/2021 12h11Atualizada em 18/12/2021 17h41

As autoridades talibãs do Afeganistão anunciaram hoje a retomada da entrega de passaportes em Cabul, renovando a esperança de poder deixar o país para aqueles que se sentem ameaçados pelos islamistas.

Milhares de afegãos também buscam fugir da crise econômica que ameaça se transformar em uma grande crise humanitária, em um contexto de interrupção da ajuda internacional desde a chegada do Talibã ao poder.

"A entrega de passaportes começará amanhã em três regiões, incluindo Cabul", disse o chefe do serviço afegão de passaportes, Alam Gul Haqqani, à imprensa.

Fechado desde que os talibãs recuperaram o poder em meados de agosto, o serviço foi reaberto brevemente em outubro. O fluxo de demandas acabou gerando problemas técnicos, o que levou os talibãs a interromperem as entregas depois de alguns dias.

"Todos os problemas técnicos estão resolvidos, os aparelhos biométricos foram consertados", disse Alam Gul Haqqani neste sábado, acrescentando que os passaportes serão entregues, primeiramente, para aqueles que já fizeram o pedido.

Novas demandas serão aceitas a partir de 10 de janeiro.

Muitos afegãos que queriam ir para o vizinho Paquistão para receber tratamento médico também foram bloqueados pela falta de um passaporte válido.

"Minha mãe tem problemas de saúde e, há tempos, a gente precisava ir ao Paquistão, mas não tinha como fazer isso", disse à AFP Jamshid, que, como muitos afegãos, não tem sobrenome.

"Estamos felizes (...) por podermos tirar nossos passaportes e ir para o Paquistão", acrescentou.

Apelos de retorno

Com a retomada da entrega dos passaportes, os talibãs querem manifestar um gesto de boa vontade, depois de terem-se comprometido com a comunidade internacional a deixar partir os compatriotas que assim o desejarem.

Segundo a ONU, o Afeganistão enfrenta "uma das piores catástrofes humanitárias do mundo", que deve se agravar com o inverno boreal (verão no Brasil).

O Programa Mundial de Alimentos da ONU alertou, inclusive, para a chegada de uma "avalanche de fome".

Os talibãs reivindicam o desbloqueio de seus recursos para relançar a economia e combater a fome. Em Cabul, muitas pessoas estão vendendo seus bens para se alimentar.

Neste sábado, o vice-ministro das Relações Exteriores do governo talibã, Sher Mohammad Abbas Stanikzai, voltou a pedir às agências da ONU que "pressionem" os Estados Unidos para liberarem os US$ 9,5 bilhões em reservas do Banco Central afegão que foram congelados.

O vice-chanceler também pediu aos afegãos que vivem no exterior que retornem para o país agora que a guerra acabou.

"Convidamos e estimulamos todos a retornarem para o Afeganistão, incluindo nossos opositores políticos", disse ele, durante uma recepção em Cabul por ocasião do Dia Internacional do Migrante.

"Peço aos Estados Unidos que nos apoiem, dando ao nosso povo uma boa vida aqui no Afeganistão, em vez de expulsá-lo do país", insistiu.

Nos últimos 40 anos, mais de seis milhões de afegãos fugiram do país para escapar da guerra e das crises econômicas e humanitárias. A maioria vive nos vizinhos Irã e no Paquistão.

Até agora, nenhum país reconheceu oficialmente o governo talibã, que recuperou o poder em agosto passado, após a saída das tropas americanas do território afegão.

Os voos internacionais, principalmente para Dubai e Abu Dhabi, foram retomados em setembro, no aeroporto de Cabul.