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NY experimenta centros de droga para prevenir overdoses

17/02/2022 14h02

Nova York, 17 Fev 2022 (AFP) - "Este lugar salva vidas", anuncia uma frase em inglês e espanhol na parede de uma sala para usuários de drogas no bairro do Harlem, em Nova York. É o primeiro centro nos Estados Unidos para usar droga em segurança e quer servir de modelo em um país afetado por um recorde de mortos por overdose.

Ao lado de cada quarto, alinham-se quatro 'boxes' ou cubículos abertos, equipados com uma cadeira, uma mesa e um espelho. Para ver "se algo dá errado", diz Mark (nome fictício) de 29 anos, um frequentador do local.

Aqui "eles te controlam, tem música, e não te pressionam... nos banheiros públicos você tem pressa (...) tem mais chances de errar a injeção e provocar um abscesso", explica o jovem.

Este californiano em busca de trabalho quer reduzir sua dependência dos "tranquilizantes e dos opiáceos", uma luta que trava há dois anos.

- Fentanil -No armário no centro da sala há seringas, elásticos, compressas e canudos coloridos. Em outras duas salas menores é possível fumar crack. Do outro lado, há uma sala de descanso onde se pode assistir televisão.

Sala para se 'drogar'? Aqui, preferem falar de um "centro de prevenção de overdose", como as que mataram 2.062 pessoas em Nova York em 2020, em plena pandemia -- contra as 1.500 de 2019 e as 1.000 de 2015 --, particularmente nos bairros pobres e de pessoas negras.

Os Estados Unidos registraram 100.000 mortes entre abril de 2020 e abril de 2021 por overdose, um recorde.

Dos casos em Nova York em 2020, 77% foram causados pelo fentanil, um poderoso e perigoso opiáceo sintético misturado com heroína ou cocaína, como o coquetel que matou a estrela da série The Wire, Michael K. Williams, em 6 de setembro de 2021.

- "Agir" -"Está em tudo", diz Sam Rivera, diretor do centro Onpoint NYCel, à frente de dois centros de acolhimento em Nova York. "Cada vez que analisamos (a droga), há fentanil", explica.

Este centro abriu suas portas em 30 de novembro de 2021 na rua 126, com o apoio da prefeitura democrata. Antes, acolhia consumidores de droga em condições seguras e oferecia programas de prevenção.

"Sabíamos que nossos participantes usavam drogas nos banheiros quando podiam (...), o problema é que se trancavam e quando era necessário agir em caso de overdose, demorava mais", conta Sam Rivera, de 59 anos.

Trabalhar com o rosto à mostra "representa uma grande mudança", resume ele ao mencionar os modelos que começaram a funcionar na Europa.

Entre os vigilantes está Alsane Mezon, uma profissional da saúde de 56 anos preparada para intervir quando alguém se sente mal, o que costuma acontecer "ao menos uma vez por semana", segundo explica.

Mezon possui oxigênio e, se isso não bastar, recorre à naloxona, principal antídoto para as overdoses. Desde que os dois centros abriram, registraram quase 130 overdoses, conta Sam Rivera.

Em Harlem, o centro oferece também cuidados médicos e acupuntura, lavanderia e comida quente. Algumas pessoas recebem ajuda para conseguir moradia e procurar emprego. Outras "vêm simplesmente para tomar café ou assistir um filme".

A epidemia de overdoses reacendeu o debate nos Estados Unidos sobre este tipo de salas para usar drogas, que estão teoricamente proibidas a nível federal e que pretendem melhorar a prevenção.

O Departamento de Justiça anunciou que examina esta alternativa e analisa com "os estados e os reguladores locais prevenções adequadas".

Nem todos estão de acordo. Os senadores republicanos acusaram o presidente Joe Biden de querer financiar os "tubos de crack" com o orçamento federal.

Em Harlem, as autoridades do bairro pediram em março de 2021 uma moratória para novas instalações destinadas aos usuários de droga.

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