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Putin insiste que suas exigências sobre a Ucrânia não são negociáveis

23/02/2022 06h24

Moscou, 23 Fev 2022 (AFP) - O presidente da Rússia, Vladimir Putin, prometeu nesta quarta-feira (23) que não cederá em suas exigências na crise em que enfrenta vários países ocidentais, o que aumenta o temor de uma invasão da Ucrânia, apesar do acúmulo de sanções internacionais.

"Os interesses e a segurança de nossos cidadãos não são negociáveis para nós", declarou Putin em um breve discurso exibido na televisão por ocasião do Dia do Defensor da Pátria.

"Nosso país está sempre aberto a um diálogo direto e honesto para encontrar soluções diplomáticas aos problemas mais complexos", afirmou o presidente russo, que, no entanto, considera considera que seus interlocutores se mostram inflexíveis e deixam seus pedidos "sem resposta".

O medo de uma escalada militar às portas da União Europeia (UE) é cada vez maior desde que Putin reconheceu, na segunda-feira, a independência de dois territórios separatistas do leste da Ucrânia: as autoproclamadas 'repúblicas' de Donetsk e Lugansk.

Nesta quarta-feira, o ministério ucraniano das Relações Exteriores pediu a seus cidadãos que deixem a Rússia rapidamente, porque uma possível invasão poderia reduzir a assistência consular.

"O ministério recomenda aos cidadãos ucranianos que não viajem para a Rússia e aos que já estão na Rússia que saiam imediatamente do território", afirma um comunicado.

Ao mesmo tempo, as Forças Armadas ucranianas anunciaram um plano de mobilização de reservistas.

A mobilização envolve os reservistas de 18 a 60 anos por um prazo máximo de um ano, afirmou o exército ucraniano.

Na terça-feira, o Parlamento russo aprovou os acordos com os separatistas ucranianos, que preveem o envio de uma força de "manutenção da paz" ao país vizinho, ou seja, autorização para uma operação militar na Ucrânia.

Embora Putin provoque dúvidas sobre o calendário de envio de tropas para ao leste, a intervenção russa já tem um marco legal após a ratificação na terça-feira dos acordos com os separatistas, especialmente no âmbito militar.

Para o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, isto significa "o início de uma invasão".

A Rússia, que enviou 150.000 soldados à fronteira com a Ucrânia, exige que o país vizinho nunca seja admitido como integrante da Otan e também uma "desmilitarização" de Kiev, assim como concessões territoriais aos separatistas pró-Rússia.

As exigências foram rejeitadas pelos países ocidentais.

Além disso, Putin reconheceu a independência do conjunto das regiões de Lugansk e de Donetsk, embora os rebeldes controlem apenas um terço das mesmas. Também mencionou a possibilidade de "negociações" hipotéticas entre as autoridades ucranianas e as forças pró-Rússia.

- Várias sanções -Apesar do cenário adverso e das possibilidades de resolução pacífica cada vez menores, Biden ressaltou que "ainda é possível evitar o pior", ao mesmo tempo que denunciou o início da invasão.

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, disse que espera um "grande ataque" russo na Ucrânia.

Os países ocidentais aprovaram as primeiras sanções após o reconhecimento da independência dos separatistas. O conflito entre os insurgentes e as autoridades ucranianas já dura oito anos e provocou mais de 14.000 mortes.

A Alemanha decidiu suspender a autorização do gigantesco gasoduto Nord Stream II, que transportará gás russo para o país europeu.

Biden também anunciou uma "primeira série" de sanções que pretendem impedir que Moscou obtenha fundos ocidentais para pagar sua dívida soberana.

União Europeia, Japão, Austrália, Canadá e Reino Unido também divulgaram sanções.

As medidas punitivas da UE são direcionadas principalmente contra bancos russos e alguns deputados. No momento, as sanções são cautelosas e menores que as anunciadas em caso de invasão.

O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, que pediu na terça-feira armas e garantias sobre sua adesão à União Europeia, também mencionou a possibilidade de romper relações diplomáticas com Moscou.

Mas o calendário parece ser estabelecido por Putin, que mantém a comunidade internacional em suspense ao cercar de mistério suas verdadeiras intenções: invadir a Ucrânia, ampliar a área sob o controle dos separatistas, obter um novo status quo na região com negociações...

A ministra britânica das Relações Exteriores, Liz Truss, considera "muito provável" que Putin decida invadir a Ucrânia e tomar Kiev.

"Pensamos que é muito provável que execute o projeto de invadir totalmente a Ucrânia", disse Truss ao canal Sky News.

Na linha de frente, no leste da Ucrânia, os separatistas de Lugansk anunciaram nesta quarta-feira a morte de um combatente, atingido pelo tiro de um franco-atirador ucraniano, segundo os insurgentes.

Os rebeldes também anunciaram a morte de um civil durante um bombardeio noturno.

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