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Com guerra na Ucrânia, Europa se torna maior importadora mundial de armas

25.fev.2022 - Membros das forças de defesa territorial da Ucrânia carregam munição após receberem armas para defender a cidade de Kiev - Mikhail Palinchak/Pool via Reuters
25.fev.2022 - Membros das forças de defesa territorial da Ucrânia carregam munição após receberem armas para defender a cidade de Kiev Imagem: Mikhail Palinchak/Pool via Reuters

14/03/2022 08h26

A Europa registrou o maior aumento mundial na importação de armas nos últimos cinco anos e a tendência aponta uma aceleração após os anúncios recentes de mais armas diante da ameaça russa, segundo um relatório divulgado nesta segunda-feira (14).

Ao contrário das exportações de armas que caíram 4,6% em todos mundo no período de 2017-21 comparado com o quinquênio anterior, a Europa apresentou um aumento de 19%, segundo o informe anual do Instituto Internacional para a Paz de Estocolmo (SIPRI)

"A Europa é a nova área de tensão", disse à AFP Siemon Wezeman, coautor do informe anual do SIPRI.

"Vamos aumentar os nossos gastos militares por muito. Necessitamos de novas armas e muito disso virá de importações", afirmou o especialista, ao destacar que a maior parte chegará dos outros países europeus e dos Estados Unidos.

A Alemanha já anunciou planos para aumentar o seu investimento bélico, assim como a Dinamarca e a Suécia.

Os países europeus, alarmados com a invasão russa à Ucrânia, devem fortalecer seus aparatos militares com caças, mísseis, artilharia e outros equipamentos pesados.

"Muitas dessas coisas levam tempo. É necessário um processo, deve-se tomar a decisão, fazer o pedido, tem que fabricar. Isso costumar levar alguns anos ao menos", segundo Wezeman.

Indicou que a tendência ascendente começou após a anexação da Crimeia pela Rússia em 2014 e os efeitos são visíveis agora.

A cota europeia do comércio mundial de armas subiu de 10% para 13% nos últimos cinco anos e esta porcentagem crescerá "substancialmente", segundo Wezeman.

De acordo com o SIPRI, Ásia e Oceania são a principal região importadora dos últimos cinco anos, com 43% das transferências bélicas e seis dos maiores importadores mundiais: Índia, Austrália, China, Coreia do Sul, Paquistão e Japão.

Ainda que as importações de armas da região mais habitada do mundo tenham caído cerca de 5% nos últimos cinco anos, Ásia Oriental e Oceania, em particular, tiveram forte crescimento com 20% e 59%, respectivamente.

"As tensões entre China e muitos outros países da Ásia e Oceania são o principal motor da importação de armas na região", indicaram os autores do informe em um comunicado.

Isolamento russo

No Oriente Médio, segundo maior mercado com 32% das importações mundiais de armas, o aumento foi de 3%, principalmente pelos investimentos do Catar, envolvido em tensões com seus vizinhos do golfo.

"Com os preços atuais do petróleo, eles vão ter muitos lucros e isso só pode ser traduzido em grandes pedidos de armas", assinalou Wezeman.

Já nas Américas e África foram registradas fortes baixas em suas compras de armas, de 36% e 34% respectivamente, e cada um responde por cerca de 6% das importações de armas.

Individualmente, Índia e Arábia Saudita compartilham a liderança como os maiores importadores, cada um com 11%, acima do Egito (5,7%), Austrália (5,4%) e China (4,8%).

Quanto aos exportadores, os Estados Unidos lideram a lista com 39%.

A Rússia permanece em segundo lugar, ainda que sua participação tenha caído a 19% nos últimos cinco anos, em grande parte pela queda nas compras da China, que agora é quase completamente independente das importações russas.

O isolamento russo e as sanções pela guerra na Ucrânia possivelmente afetarão o futuro de sua indústria bélica.

"Há uma ameaça do lado americano que diz "se você compra armas da Rússia, vamos te sancionar", indicou Wezeman, citando as tensões surgidas logo depois que a Turquia comprou um sistema russo de defesa de antimísseis S-400.

"Acredito que a pressão será enorme sobre países como Argélia ou Egito, que são grandes importadores de armas russas, indicou.

A França é o terceiro maior exportador com 11%, enquanto China e Alemanha permaneceram em quarto e quinto lugar com 4,6% e 4,5%, respectivamente.