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Aumenta risco de escalada no bairro muçulmano de Jerusalém

22/04/2022 11h46

Jerusalém, 22 Abr 2022 (AFP) - Do lado de fora de sua mercearia na Cidade Velha de Jerusalém, Alaa Zorba grita com um policial israelense, que grita de volta. Mais um sinal das tensões entre israelenses e palestinos que podem explodir a qualquer momento.

"Estão jogando lenha na fogueira", diz este comerciante, enquanto repõe mercadoria em sua loja em Al Wad, a principal rua do bairro muçulmano da Cidade Velha, perto de três policiais israelenses.

Pouco antes, este palestino de 45 anos viu um dos policiais pedir os documemntos de identidade a um muçulmano, quando queria ir à Esplanada das Mesquitas. Acabaram impedindo sua passagem, sem motivo aparente, e o policial disse a ele que tentasse a sorte por outra entrada, muito mais longe.

A Esplanada das Mesquitas fica na Cidade Velha de Jerusalém, no leste da cidade, uma parte ocupada por Israel desde 1967 e reivindicada pelos palestinos como capital de um futuro Estado. É chamada de Monte do Templo pelos judeus, por nela se encontrarem os restos do templo de Jerusalém. Ao pé da Esplanada, está o Muro das Lamentações, um local de culto judaico.

Pouco depois, o mesmo policial deseja "Feliz Páscoa" ("Pessach") a um judeu que passa por ali, o que faz Alaa Zorba perder a paciência.

"Gritei com eles que estavam perturbados", relata, depois de ser acalmado por outros palestinos.

Após o breve confronto, mais violento nas palavras do que nos golpes, cada um volta para seus afazeres.

Perto dali, um jovem palestino algemado segue dois policiais israelenses. Ninguém sabe o motivo da detenção, mas ninguém presta atenção na cena, que agora parece algo comum.

"Dia após dia, a tensão aumenta", descreve Alaa Zorba.

- 'Clima de guerra' - A Cidade Velha de Jerusalém é dividida em quatro bairros (judeu, muçulmano, cristão e armênio), frequentados pelos fiéis de cada religião, por moradores e turistas, sob a vigilância das forças israelenses em cada esquina.

E se mantém como foco permanente das tensões. Os palestinos - tanto cristãos quanto muçulmanos - acusam as organizações nacionalistas israelenses de quererem colonizar e "judaizar" este lugar, onde as grandes religiões monoteístas se encontram, localizado na parte palestina de Jerusalém, ocupada e anexada por Israel desde 1967.

Os confrontos aumentaram nos últimos dias com a celebração do Ramadã, o mês do jejum muçulmano, e a Páscoa judaica, duas datas que geram grandes aglomerações na Cidade Velha.

Na sexta-feira passada, 15 de abril, a tensão se transformou em confronto na Esplanada, entre manifestantes palestinos e forças israelenses, deixando mais de 170 palestinos feridos. E, hoje, novos embates eclodiram.

"A situação é muito difícil, há um clima de guerra", disse Firas Mohamad, outro comerciante da Al Wad Street, que continua recebendo alguns clientes normalmente.

Mohamad se ressente dos judeus ultraortodoxos e, eventualmente, nacionalistas que "desfilam" em frente à sua loja, muitas vezes escoltados por seguranças, a caminho do Muro das Lamentações, ou da Esplanada das Mesquitas.

Antes, não passavam pelo bairro muçulmano, mas hoje "vêm em grupos, com bandeiras, gritando 'morte aos árabes, morte aos muçulmanos', e vêm para criar problemas", reclama Firas Mohamad. E a polícia israelense "não faz nada", completa.

Em vez disso, acrescenta, têm permissão para entrar na Esplanada, um lugar administrado pela Jordânia, cujo acesso é controlado por Israel. Podem entrar sob certas condições, mas não podem rezar.

- "Muito obrigado" -Esta semana, mais de 3.800 judeus visitaram o local, quebrando um "recorde" para a Páscoa, de acordo com o órgão israelense de visitas.

Ao deixaram o monumento, alguns entoam cantos religiosos, ou até se deitam no chão para beijá-lo no fervor de suas orações, a poucos passos dos habitantes palestinos. Para estes últimos, essas visitas são provocações.

Um judeu ultraortodoxo, que deixa a Cidade Velha passa por policiais israelenses, deseja-lhes "Feliz Páscoa" e diz "muito obrigado".

"Agradeço a eles porque (...) nos protegem", explica, sem revelar sua identidade.

"Se não estivessem aqui, não poderíamos caminhar com tanta facilidade", admite.

Em uma rua tranquila, Nader Zaro, dono de um café palestino, sente a pressão aumentando. "Um dia vai explodir", avisa.

cgo/gl/vl/pc/eg/tt

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