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Guerra da Rússia-Ucrânia

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Suspeita de 'crimes de guerra', Rússia quer conquistar leste e sul da Ucrânia

11.abr.2022 - Um soldado russo na frente de um prédio residencial destruído - ALEXANDER NEMENOV / AFP
11.abr.2022 - Um soldado russo na frente de um prédio residencial destruído Imagem: ALEXANDER NEMENOV / AFP

22/04/2022 18h58

A Rússia anunciou nesta sexta-feira que pretende controlar todo o sul e leste da Ucrânia, após quase dois meses de uma ofensiva que colocou suas tropas na mira da ONU por possíveis "crimes de guerra".

"Desde o início da segunda fase da operação especial, um dos objetivos do exército russo é estabelecer o controle total sobre o Donbass e o sul da Ucrânia", disse o general Rustam Minnekayev, subcomandante das forças do distrito militar do centro da Rússia.

"Isto permitiria garantir um corredor terrestre até a Crimeia", acrescentou, a respeito da península ucraniana que Moscou anexou em 2014.

A conquista do sul da Ucrânia também ajudaria os separatistas na região moldava da Transnístria, "onde também vemos casos de opressão da população de língua russa", disse o oficial.

O governo pró-ocidente da Moldávia convocou imediatamente o embaixador russo e expressou "profunda preocupação" com essas declarações.

O presidente russo, Vladimir Putin, lançou a ofensiva contra a Ucrânia em 24 de fevereiro, em nome da defesa da população de língua russa no leste do país.

A agonia de Mariupol

Putin reivindicou na quinta-feira a captura da estratégica cidade de Mariupol, no sudeste, após quase dois meses de combates, embora o vasto complexo industrial de Azovstal siga sob controle da resistência ucraniana.

"O sucesso da ofensiva russa no sul depende do destino de Mariupol", disse à AFP o governador regional, Pavlo Kyrylenk, acrescentando que cerca de "300 civis" também estão em Azovstal.

As autoridades estimam que cerca de 20.000 pessoas morreram em Mariupol devido a bombardeios ou falta de água, comida e eletricidade no auge do inverno.

Putin afirmou que garantiria a vida de "militares ucranianos, combatentes nacionalistas e mercenários estrangeiros se deporem suas armas", mas que o governo ucraniano "não autoriza essa possibilidade".

O Ministério da Defesa russo disse, por outro lado, que está disposto a concordar com uma trégua humanitária naquela área e dar aos civis a opção de ir para territórios sob controle russo ou ucraniano.

Mas o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, afirmou que a Rússia rejeitou uma proposta de trégua durante o feriado ortodoxo da Páscoa.

O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, pediu a Putin que implemente corredores humanitários em Mariupol e outras cidades ucranianas.

Três ônibus com civis conseguiram sair de Mariupol para áreas mais seguras da Ucrânia, mas nesta sexta-feira o corredor humanitário não pôde ser garantido por motivos de segurança.

O chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, lamentou que a Rússia não esteja respondendo aos esforços da Ucrânia para buscar uma solução diplomática para a evacuação de civis.

Mas Putin garantiu, por sua vez, que os líderes europeus apostam numa solução militar para o conflito.

E o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, garantiu que as negociações estão paralisadas, aguardando uma resposta da Ucrânia a uma proposta feita pela Rússia há cinco dias.

"Crimes de guerra"

A ONU acusou nesta sexta-feira o exército russo de ações que "poderiam constituir crimes de guerra".

"As Forças Armadas russas bombardearam de maneira indiscriminada zonas residenciais, mataram civis e destruíram hospitais, escolas e outras infraestruturas civis, em ações que poderiam constituir crimes de guerra", declarou Ravina Shamdasani, porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, que tem sede em Genebra.

Shamdasani não descartou que o lado ucraniano também tenha violado o direito humanitário, mas a "maioria das violações, de longe, é atribuída às forças russas".

Ela explicou que, de modo concreto, os investigadores da ONU que integraram uma missão na Ucrânia no início de abril já conseguiram documentar "os assassinatos, alguns deles execuções sumárias, de 50 civis na cidade de Bucha", perto de Kiev.

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, viajará para a Rússia na próxima semana, onde será recebido por Putin, anunciou o Kremlin. Será o primeiro encontro entre os dois desde o início da ofensiva.

"Suposto referendo"

Com o conflito concentrado no leste e sul, nas proximidades de Kiev as autoridades prosseguem com os trabalhos de exumação e análises forenses dos cadáveres encontrados em várias cidades após a retirada das tropas russas.

Uma fonte do governo informou que os necrotérios da região de Kiev receberam 1.020 corpos de civis. "Tudo está sendo investigado", declarou Oleksandr Pavliuk, comandante militar da região.

Em um vídeo divulgado na quinta-feira à noite, Zelensky também acusou a Rússia de preparar um referendo nas zonas sob seu controle em Kherson e Zaporizhzhia, no sul para pressionar os moradores a fornecer os dados pessoais às forças invasoras.

"É para falsificar um suposto referendo sobre sua terra se a ordem de organizar esta paródia chegar de Moscou", advertiu.

Em 2014, um referendo deste tipo, denunciado como inválido por Kiev e pelas potências ocidentais, justificou a anexação russa da Crimeia. Posteriormente, os rebeldes pró-Moscou de Donetsk e Lugansk utilizaram votações similares para proclamar sua independência.

No campo financeiro, o Fundo Monetário Internacional alertou nesta sexta-feira que a Rússia sofrerá uma inflação de 20% e que as suas exportações de energia vão registar um declínio devido às sanções impostas pelas potências ocidentais pela invasão da Ucrânia.

E no final da tarde, o Ministério da Defesa da Rússia admitiu pela primeira vez a perda de vidas no naufrágio em 14 de abril do "Moskva", principal navio de guerra russo.

"Um soldado morreu e 27 tripulantes foram declarados desaparecidos", enquanto outros 396 foram evacuados, informou o ministério, citado por agências de notícias russas.

A Rússia afirma que o naufrágio foi causado por uma explosão de munição a bordo, enquanto a Ucrânia garante que suas forças afundaram o navio em um ataque com mísseis.