Operação policial na Vila Cruzeiro deixa 22 mortos
Rio de Janeiro, 24 Mai 2022 (AFP) - Uma nova incursão policial contra o tráfico de drogas em uma favela do Rio de Janeiro deixou 22 mortos nesta terça-feira (24), um ano depois da operação mais letal da história da cidade, com 28 mortos no Jacarezinho.
O número de mortos na Vila Cruzeiro subiu para 22, segundo novo balanço da Secretaria Estadual de Saúde, que não divulgou a identidade das vítimas.
A operação, que durou cerca de 12 horas e provocou o fechamento de escolas e de outros serviços públicos, tinha como objetivo capturar os líderes da organização criminosa "Comando Vermelho", escondidos no local, segundo a Polícia Militar (PM) do Rio de Janeiro.
"Aquela facção criminosa [CV] costuma fazer invasões em outras áreas, tínhamos o indicativo que essa quadrilha se deslocaria pela cidade", detalhou o comandante do Batalhão de Operações Especiais (Bope), Uirá do Nascimento Ferreira, que atuou em conjunto com a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal (PRF).
Mais cedo, a PM havia reportado pelo menos 12 mortos - 11 deles criminosos -, mas o número superou rapidamente a casa das duas dezenas depois que foram encontrados corpos em uma área de mata fechada.
Além disso, uma moradora de um bairro vizinho à comunidade morreu ao ser atingida por uma bala perdida, enquanto outras sete pessoas ficaram feridas.
A PM assegurou ter sido recebida a tiros por criminosos na parte alta da favela, quando se preparava para iniciar a operação.
Ao longo do dia, os corpos foram chegando a um hospital próximo, o Getúlio Vargas, trazidos em caminhonetes e outros veículos particulares, alguns com a cabeça coberta, em um clima de tensão, conforme constatou um fotógrafo da AFP.
Grupos de familiares e amigos, em sua maioria mulheres, se aglomeraram na entrada do Getúlio Vargas. "Vocês mataram ele, filhos da p...", gritava uma jovem que mal conseguia conter sua raiva e dor.
"É realmente uma situação estarrecedora, não podemos normalizar o Estado entrar numa favela e deixar 20 corpos ou mais", disse à AFP David dos Santos, de 32 anos, morador da região.
Os agentes apreenderam 13 fuzis, 12 granadas, quatro pistolas e uma quantidade indeterminada de drogas. Além disso, foram confiscados 20 motos e 20 carros que supostamente pertencem à quadrilha.
Nenhuma prisão foi anunciada.
O Comando Vermelho é responsável por "mais de 80% dos confrontos armados no Rio", segundo Ivan Blaz, porta-voz da Polícia Militar do Rio de Janeiro.
- População em risco -"Essas operações policiais em favelas colocam em risco a vida de toda a população, impedem o funcionamento de serviços públicos e do comércio, [...] e não resolvem absolutamente nenhum problema de segurança", disse à AFP Guilherme Pimentel, Ouvidor da Defensoria Pública do Rio.
"Sabemos que essas operações jamais seriam toleradas em bairros nobres da cidade. É preciso que também não sejam mais toleradas nas favelas", acrescentou.
A Human Rights Watch lamentou as mortes e exigiu uma investigação "imediata" e "exaustiva" do que aconteceu. "O Rio precisa urgentemente de uma nova política de segurança pública que não seja a bala", afirmou.
Moradores e associações denunciam com frequência supostas execuções extrajudiciais durante operações desse tipo, que quase sempre ficam impunes.
O Ministério Público Federal anunciou a abertura de uma investigação sobre as "condutas" e "eventuais violações" por parte dos policiais que participaram da operação desta terça.
A Vila Cruzeiro, uma das favelas que compõem o Complexo da Penha, foi palco em fevereiro de outra operação semelhante que deixou oito suspeitos mortos.
Foi lá também que o jornalista Tim Lopes foi torturado e executado por traficantes em 2002, enquanto fazia uma reportagem sobre abuso infantil na favela.
- Violência endêmica -O Rio completou este mês um ano da operação policial mais mortal de sua história na favela do Jacarezinho, localizada a oito quilômetros de Vila Cruzeiro, onde 28 pessoas morrerem em uma operação contra o tráfico em 6 de maio de 2021.
Segundo a Rede da Observatórios de Segurança, que reúne ONGs e universidades, a desta terça-feira é a segunda mais letal.
Em 2021, a polícia do estado do Rio causou a morte de 1.356 pessoas pelas mãos das forças policiais, segundo o projeto Monitor da Violência.
O Rio, cidade com problemas crônicos de violência policial, planeja instalar cerca de 8.000 câmeras nos uniformes dos policiais, um projeto originalmente previsto para maio, mas que foi adiado para junho, segundo a imprensa local.
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