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Em 'visita de Estado', coração de Dom Pedro I chega ao Brasil

22/08/2022 14h59

Após descansar durante quase 200 anos em uma igreja do Porto, em Portugal, o coração de Dom Pedro I, que proclamou a independência do Brasil e foi coroado seu primeiro imperador, chegou nesta segunda-feira (22), com toda a pompa, a Brasília para as comemorações do bicentenário da independência.

"Hoje, regressa ao solo pátrio, pelas asas da Força Aérea, o coração deste herói nacional, primeiro imperador do Brasil", disse o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, em cerimônia na base área.

"Esta importante relíquia que representa, além da bravura e da paixão, a imensurável força de nosso primeiro imperador", acrescentou Nogueira.

Dom Pedro é um personagem querido na historiografia tanto do Brasil como de Portugal e ficou dividido entre os dois países após sua morte: seu coração, guardado como uma relíquia em uma igreja no Porto, em Portugal, e o resto de seu corpo em um monumento à independência em São Paulo.

No entanto, depois que as autoridades do Porto permitiram emprestá-lo ao Brasil, o coração chegou à capital brasileira para as festividades do bicentenário de independência, em 7 de setembro.

"O coração do imperador será recebido com todas as honras de Estado, seguindo o mesmo ritual dispensado durante as visitas de chefes de outros países", disse em coletiva de imprensa o ministro Alan Coelho de Séllos, chefe do cerimonial de Itamaraty. "Ele será tratado como se Dom Pedro I estivesse vivo entre nós", acrescentou.

No Brasil, o órgão, guardado em um recipiente de vidro dentro de uma urna dorada, terá uma agenda intensa.

Na terça-feira, será recebido oficialmente pelo presidente Jair Bolsonaro, com honras militares no Palácio do Planalto.

Depois, permanecerá exposto por 17 dias no Palácio do Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores, sob estritas condições ambientes e com capacidade restrita de presentes, atendendo às preocupações sobre a conservação do órgão.

- 'Palhaçada' -

Preservado em formol por 187 anos, o coração do imperador permaneceu guardado "a sete chaves" na igreja Nossa Senhora da Lapa no Porto, onde pertence de fato.

Antes de ser trazido ao Brasil, milhares de pessoas visitaram a relíquia na igreja, em um exposição inédita aberta ao público durante o fim de semana, segundo a imprensa portuguesa.

No Brasil, qualquer movimentação da urna de aproximadamente nove quilos será supervisionado pessoalmente por um membro da polícia do Porto. O órgão retornará a Portugal em 8 de setembro, um dia depois das comemorações dos 200 anos de independência.

As comemorações acontecerão no meio da campanha eleitoral para as eleições presidenciais de 2 de outubro, no momento em que Bolsonaro enfrenta críticas por atiçar paixões nacionalistas com os atos relacionados com o coração "imperial".

Bolsonaro também planeja um comício com seguidores e um desfile militar no Dia da Independência.

Seus críticos afirmam que a exibição do coração remete à decisão da ditadura militar de trazer o corpo de Pedro I de Portugal, em 1972.

"Vai ser uma palhaçada Bolsonaro aguardar o coração como se fosse um dignatário", declarou a historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz, autora de livros sobre Pedro I e a independência do Brasil, que também denunciou o ato como um exemplo de "cultura mórbida".

"Precisamos perguntar que noção de história é essa. Uma história parada no tempo, morta, detida em órgão falido do corpo de um imperador", disse Schwarcz ao portal UOL.

Outros encararam a situação com bom humor.

"Já que o coração de D. Pedro chegou - e considerando que a invasão napoleônica trouxe a corte portuguesa pra cá e marcou o início do processo de independência - sugiro que tragam também para as celebrações o pênis de Napoleão Bonaparte", ironizou o historiador Luiz Antônio Simas em postagem no Twitter.

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© Agence France-Presse