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Confederação Sindical Internacional pede manutenção dos "progressos" trabalhistas no Catar

05/10/2022 15h14

A secretária-geral da Confederação Sindical Internacional, a australiana Sharan Burrow, destacou em uma entrevista à AFP que o tratamento aos trabalhadores imigrantes no Catar alcançou "incríveis progressos" desde 2010, quando foi feito o anúncio da realização da Copa do Mundo de 2022 no país, embora ainda sejam insuficientes.

P: Seu relatório de 2014 sobre os trabalhadores migrantes no Catar atraiu atenção sobre o tema. Como foi ele foi recebido?

R: "Quando a FIFA anunciou a Copa do Mundo no Catar, tínhamos acabado de publicar uma análise pedindo para focar na exploração de trabalhadores migrantes na região, que classificamos como escravidão moderna. (A escolha do Catar) atraiu a atenção graças à FIFA. Mas eles não fizeram nada depois (...) Não se pode dizer o mesmo do Comitê de Organização (catari). Assumiram suas responsabilidades (...) e vemos hoje que muitas reformas foram feitas para a competição". 

P: Como a situação evoluiu desde então?

R: "De 2012 a 2014, nos reunimos regularmente com trabalhadores e visitamos obras. Nos dois primeiros anos, não falamos com o governo (...) depois tentamos conversar com o ministro do Trabalho na época, mas ele não queria saber de nada (...) Frustrados com a falta de progressos, apresentamos uma denúncia à Organização Mundial do Trabalho (OIT) em 2016 e, quando o governo decidiu negociar, o fez de boa fé (...) Negociamos leis. Não é tudo que o gostaríamos de ver em um sistema industrial maduro, mas são bases fundamentais para a proteção dos direitos dos trabalhadores".

P: Os dados sobre o número de mortes em obras relacionadas à Copa do Mundo são contraditórios. Quais são eles?

R: "As investigações da OIT mostram que houve 50 mortes e pouco mais de 500 pessoas feridas gravemente em 2020. Estes são os números corretos, não o de 6.000 e poucas mortes (entre o final de 2010 e início de 2021, segundo alguns veículos de imprensa). Sem as alterações que pedimos, provavelmente haveria milhares de mortes (...) Não estou inventando nada. Foi uma transformação radical ao longo de 10 anos (...) Se são necessárias mais mudanças? Com certeza, mas (o Catar) merece crédito por isso".

P: O que você pensa sobre um boicote a competição?

R: "É um pouco triste porque (os que pedem um boicote) são pessoas do bem, que se posicionam diante dos ataques aos direitos humanos, mas não nos escutam quando dizemos que foram feitos progressos incríveis. A aplicação desses avanços segue sendo um desafio para o governo catari, para a OIT e também para nós, mas existem leis a serem cumpridas. Nossa mensagem aos torcedores é a seguinte: vá à Copa e veja com seus próprios olhos. Se vir algo preocupante, aponte. E então nos ajude a pressionar outros Estados do Golfo para que se adaptem aos mesmos padrões".

P: O que falta para o Catar alcançar no que se refere aos direitos humanos de trabalhadores migrantes?

R: "Esperamos um aumento do salário mínimo nos próximos meses. Os empregadores que não pagarem em dia o salário combinado serão punidos (...) e o governo vai anunciar sanções mais duras contra os que desrespeitarem a lei e denunciarem como trabalhadores ausentes os que mudarem de emprego (...) A fiscalização da proteção ao trabalhador será aumentada durante o torneio e haverá uma nova diretriz sobre o tempo de trabalho para que se evite a exploração (...) Há muito o que desenvolver em relação aos empregados domésticos. O governo está determinado a protegê-los melhor e este será um assunto importante no ano que vem".

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© Agence France-Presse