Acusações russas sobre uso de 'bomba suja' na Ucrânia, escalada nuclear ou distração?
Ao acusar a Ucrânia de querer detonar uma "bomba suja" em seu próprio território para que pareça um ataque russo, Moscou volta a dar força à hipótese de uma escalada nuclear, mas alguns analistas não descartam que isso seja uma simples distração.
O termo "bomba suja", conhecido também como "dispositivo de dispersão radiológica", refere-se a uma bomba convencional envolta em material radioativo que é espalhado durante a explosão.
No domingo (23), o ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, manifestou preocupação com o possível uso de uma "bomba suja" pela Ucrânia em seu próprio território durante uma conversa com os titulares de Defesa de diversos países da Otan.
Em contrapartida, Estados Unidos, Reino Unido e França emitiram uma declaração conjunta para rechaçar a versão "claramente falsa" da Rússia, enquanto Kiev desmentiu com veemência a acusação.
"Ninguém se deixaria enganar por uma tentativa de utilizar esta acusação como pretexto para uma escalada", comentaram Estados Unidos, Reino Unido e França, três potências nucleares com poder de veto no Conselho de Segurança da ONU.
Ucranianos e ocidentais suspeitam que a Rússia poderia estar se preparando para detonar ela mesma uma "bomba suja" e acusar a Ucrânia, para em seguida justificar uma escalada militar com uso de armas nucleares táticas como represália.
Pela primeira vez desde meados de maio, os chefes de Estado-Maior das forças armadas de Rússia e Estados Unidos, Valeri Gerasimov e Mark Milley, respectivamente, conversaram sobre o assunto.
O objetivo deste tipo de bomba é contaminar uma área geográfica e as pessoas que estão ali, tanto com radiação direta como pela ingestão ou inalação de materiais radioativos.
"Uma bomba suja não é uma 'arma de destruição em massa', mas uma 'arma de terror em massa' que busca, principalmente, contaminar e causar medo", resume a agência reguladora nuclear dos Estados Unidos, conhecida pela sigla NRC.
"Os russos estão usando esta dialética de escalada devido às dificuldades reais na frente de batalha", onde as tropas de Kiev lançaram una contraofensiva que lhes permitiu recuperar milhares de km² de território no nordeste e no sul, opinou uma fonte militar ocidental.
"Se há um desequilíbrio, [a Rússia] se vê obrigada a escalar para evitar uma derrota tática no campo de batalha, que pode se converter em uma derrota estratégica", acrescentou.
- 'Barulho para assustar' -
Em março, após fracassar em sua tentativa de tomar a capital, Kiev, Moscou acusou a Ucrânia de preparar armas bacteriológicas em laboratórios secretos. Kiev, por outro lado, havia desmentido essas afirmações.
Em todo o caso, a possibilidade de usar uma "bomba suja" para depois justificar um ataque nuclear tático é pouco crível, segundo alguns especialistas.
Por um lado, os serviços de inteligência ocidentais não têm indícios de que a Rússia decidira usar armas nucleares.
Por outro, "se os russos realizarem um ataque de 'bandeira falsa' [false flag, em inglês]" usando uma bomba suja, "ficaríamos sabendo de imediato", declarou à AFP William Alberque, especialista em controle de armas do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, na sigla em inglês) de Londres.
"É possível fabricar uma arma química do nada. O material nuclear, porém, tem uma 'digital' bastante identificável", explicou.
"É apenas barulho para assustar, uma distração" da qual Moscou tentará se aproveitar depois, alegando que dissuadiu Kiev de utilizar uma bomba suja, opinou Alberque.
dab-bur/fz/sag/mb/rpr/mvv
© Agence France-Presse
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