Lula, a 'fênix' da esquerda brasileira volta à Presidência
De engraxate a líder sindical a três vezes presidente do Brasil. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) volta ao poder, ressurgido das cinzas como a "fênix".
Este autodenominado "jovem" de 77 anos, ícone da esquerda brasileira e latino-americana, venceu neste domingo (30) com 50,83% dos votos o presidente Jair Bolsonaro, que tentava a reeleição.
E volta a assumir as rédeas deste país de dimensões continentais, após ter sido condenado e preso por corrupção, que muitos deram por certo o fim de sua vida política.
"É o dia mais importante da minha vida", disse a jornalistas depois de votar em uma escola de São Bernardo do Campo, região metropolitana de São Paulo, onde se forjou como líder sindical nos anos 1970.
Duas vezes presidente entre 2003 e 2010, Lula deixou o poder com uma popularidade de quase 90%, após uma gestão em que 30 milhões dos mais de 200 milhões de brasileiros saíram da pobreza.
Ganhou um enorme prestígio internacional como piloto do "milagre" econômico do Brasil, impulsionado pelos altos preços das commodities.
Neste terceiro mandato, não poderá contar com a mesma situação: embora a economia dê sinais de melhora, com crescimento, menos inflação e mais emprego, está longe da prosperidade dos anos 2000.
- Origens -
Um pequeno casebre de taipa, réplica daquele em que sua família morava quando ele nasceu em 27 de outubro de 1945, lembra suas origens humildes no Nordeste.
Sétimo filho de um casal analfabeto, Lula foi abandonado por seu pai antes de sua família migrar, como milhões de conterrâneos, para São Paulo.
Foi vendedor ambulante e engraxate. Aos 14 anos, iniciou sua formação de torneiro mecânico, trabalho em que perdeu um dedo mindinho ao manipular uma máquina. No fim da década de 1970, como líder do sindicato de metalúrgicos, liderou uma histórica greve que desafiou a ditadura militar (1964-1985).
Disputou a eleição presidencial de 1989, a primeira desde a redemocratização, e depois em 1994, 1998 e 2002, quando venceu e se tornou o primeiro chefe de Estado brasileiro oriundo da classe trabalhadora.
- Corrupção -
Lula coroou seu duplo mandato conseguindo a sede do Copa do Mundo de futebol de 2014 e dos Jogos Olímpicos Rio 2016.
Apesar de sua popularidade, sua trajetória política se viu manchada por escândalos de corrupção.
Foi reeleito a despeito do Mensalão, um esquema ilegal milionário montado pelo Partido dos Trabalhadores (PT) - que cofundou em 1980 - para comprar o apoio de deputados.
Acabou também envolvido na Lava Jato, a maior operação anticorrupção da história do país, focada em uma gigantesca rede de subornos em torno da Petrobras.
Foi condenado em 2017 a nove anos e meio de prisão pela aquisição de um apartamento triplex de uma construtora em troca de contratos públicos, embora sempre tenha defendido sua inocência.
Ficou preso por 19 meses. Em março de 2021, recuperou seus direitos políticos com a anulação de sua sentença por irregularidades processuais.
Perdeu um irmão e um neto de sete anos enquanto estava atrás das grades.
"E eu lá tranquilo, me preparando como Mandela se preparou durante 27 anos, me preparando como Ghandi se preparou a vida inteira, para sair da cadeia sem raiva", disse o ex-presidente, definindo-se como o "Lulinha paz e amor" em São Paulo.
- 'Drenou o oxigênio' -
Pai de cinco filhos e sobrevivente de um câncer, Lula se casou pela terceira vez em março, com a socióloga Rosângela da Silva, a "Janja". Marisa Letícia Lula da Silva, que foi a primeira-dama durante seus dois mandatos anteriores, morreu em 2017.
Lula monopolizou a liderança da esquerda brasileira. De nove eleições na democracia, incluindo a deste ano, só terá se ausentado de três.
"Drenou um pouco o oxigênio" de qualquer possível revezamento geracional, explicou à AFP Leonardo Paz, consultor para o Brasil do International Crisis Group. "Não deu muito espaço para que jovens políticos da esquerda crescessem."
De qualquer forma, adiantou que não pretende governar por oito anos se ganhar no domingo.
"Todo mundo sabe que não é possível um cidadão com 81 anos querer a reeleição", afirmou esta semana. "A natureza é implacável."
bur-jt/rsr/app/ic/mvv/rpr
© Agence France-Presse
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