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Taxista que virou 'pastor' é principal suspeito do 'massacre de Shakahola', no Quênia

24/04/2023 14h22Atualizada em 25/04/2023 20h40

Acusado de ter levado seus seguidores a morrerem de fome no leste do Quênia, Paul Mackenzie Nthenge é um taxista que virou "pastor" em 2003, e cuja pregação extrema o levou duas vezes para a prisão desde 2017.

Ele está no centro do que vem sendo chamado neste país do leste da África de "Massacre da floresta de Shakahola", assim chamada pelo nome da floresta onde dezenas de corpos foram encontrados, aparentemente membros da Igreja Internacional das Boas Novas, que ele fundou em 2003.

Mais de 70 corpos foram encontrados segundo um balanço provisório, entregue na segunda-feira por Japhet Koome, chefe da polícia do Quênia. O presidente William Ruto denunciou uma ação de "terroristas".

A polícia havia apresentado o líder desta "Igreja" como Makenzie Nthenge em um relatório de 14 de abril, quando as forças de ordem local intervieram depois de receber relatórios sobre "cidadãos ignorantes mortos de fome com o pretexto de conhecer Jesus depois de terem passado por uma lavagem cerebral".

Mackenzie Nthenge sabia que era procurado e se entregou à polícia na noite de 14 de abril.

Nos documentos judiciais consultados pela AFP, seu nome é Paul Mackenzie Nthenge, mas no site de sua organização na internet, diz-se que esta foi "criada em 17 de agosto de 2003 pelo servidor de Deus PN Mackenzie".

Com sucursais em várias regiões do Quênia, a Igreja Internacional das Boas Novas conta com mais de 3.000 membros, mil deles na cidade costeira de Malindi, onde tinha se instalado.

"Os últimos tempos"

"A missão deste ministério é nutrir os fiéis de forma holística em todas as áreas da espiritualidade cristã, enquanto nos preparamos para a segunda vinda de Jesus Cristo através do ensino e da evangelização", lê-se.

Paul Mackenzie Nthenge difundia um programa intitulado "Mensagem dos últimos tempos" que evocava "ensinamentos, pregações e profecias sobre o final dos tempos, comumente chamados escatologia". Ele dizia "levar o evangelho do nosso senhor Jesus Cristo livre do engano e do intelecto do homem".

Também lançou um canal no YouTube em 2017, no qual pode-se encontrar vídeos de seus sermões em sua igreja em Malindi, onde alertava enfaticamente seus fiéis sobre práticas "demoníacas" como usar perucas e fazer transações digitais sem dinheiro vivo.

Este ano, foi preso pela primeira vez por "radicalização", por ter promovido a não escolarização das crianças, afirmando que a educação não era reconhecida pela bíblia.

Afirma ter criado sua igreja dois anos depois para se estabelecer no povoado florestal de Shakahola. "Tive a revelação de que tinha chegado a hora de parar", declarou em 25 de março ao jornal The Nation. "Só rezo comigo mesmo e com aqueles que escolheram acreditar", afirmou.

Dias antes, havia sido preso novamente "após ser vinculado à morte de duas crianças que, supõem-se, teriam morrido de fome por instruções deste criminoso", disse Japhet Koome nesta segunda. Segundo o chefe da polícia do Quênia, ele havia recomendado a seus seguidores "jejuar até a morte para se encontrar com seu criador".

Ele teria sido solto graças a uma fiança de 100.000 xelins quenianos (cerca de R$ 3,8 mil na cotação atual). Em sua entrevista ao The Nation, dizia estar "chocado com as acusações contra ele".

Isto ocorreu algumas semanas antes de a polícia encontrar as primeiras vítimas na floresta de Shakahola: 15 de seus adeptos, muitos deles debilitados e abatidos. Quatro morreram enquanto eram transferidos para o hospital.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do informado em uma versão anterior deste texto, o valor de 100 mil xelins quenianos corresponde a R$ 3,8 mil, e não R$ 3,8 bilhões. A informação já foi corrigida.