Contaminação por mercúrio atinge indígenas Yanomami, revela estudo

Pesquisadores observaram na Amazônia uma contaminação generalizada por mercúrio entre membros do povo indígena Yanomami que vivem ameaçados pelo garimpo ilegal de ouro, revela um estudo divulgado nesta quinta-feira (4), que alerta para os impactos devastadores na saúde dessa população.

Conduzida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a pesquisa colheu amostras de cabelo e células da mucosa oral de 293 membros da comunidade Yanomami em nove aldeias da região do Rio Mucajaí, no estado de Roraima. A área está entre as mais afetadas pelo garimpo ilegal de ouro na reserva Yanomami, um território maior do que Portugal e que abriga cerca de 29 mil indígenas.

Realizado em outubro de 2022, o estudo constatou que 100% dos participantes estavam contaminados com o metal tóxico e 84% com níveis superiores ao limite recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), de dois microgramas por grama de cabelo. Outros 10,8% apresentavam níveis de mercúrio superiores a seis microgramas por grama, o que requer atendimento médico especial, segundo os autores.

"Esse cenário de vulnerabilidade aumenta exponencialmente o risco de adoecimento das crianças que vivem na região", principalmente os menores de 5 anos, ressaltou o coordenador do estudo, Paulo Basta.

Os Yanomami enfrentam uma crise de saúde devastadora, alimentada, segundo especialistas, pela explosão do garimpo ilegal em suas terras. Líderes indígenas e ativistas dos direitos humanos acusam garimpeiros de estuprar e matar Yanomamis, desmatar a floresta tropical, desencadear uma crise alimentar e poluir rios com o mercúrio usado para separar o ouro dos sedimentos.

No ano passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mobilizou militares e policiais em uma tentativa de expulsar cerca de 20 mil garimpeiros ilegais do território Yanomami. Mas ativistas apontam que esse grupo indígena continua extremamente vulnerável.

O estudo constatou que o consumo médio de mercúrio naquela população é três vezes superior aos limites recomendados. O metal é ingerido por meio dos peixes, uma das principais fontes de alimento dos Yanomami.

Os pesquisadores identificaram doenças degenerativas do sistema nervoso em quase 30% dos participantes, condições relacionadas ao envenenamento por mercúrio. Entre as crianças, 55,2% apresentavam déficits cognitivos.

"O garimpo é o maior mal que temos hoje na terra Yanomami", criticou o vice-presidente da Associação Hutukara Yanomami, Dário Vitório Kopenawa. "Nosso povo está morrendo por causa dele."

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© Agence France-Presse

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