Petro anuncia que Colômbia romperá relações diplomáticas com Israel por guerra em Gaza

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, anunciou, nesta quarta-feira (1º), que romperá, a partir de quinta-feira, as relações diplomáticas com Israel, cujo governo liderado pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu ele chamou de "genocida" pela condução da guerra na Faixa de Gaza.

"Amanhã [quinta-feira] serão rompidas as relações diplomáticas com o Estado de Israel [...] por ter um governo, por ter um presidente genocida", disse o mandatário esquerdista na Praça de Bolívar, no centro da capital, onde recebeu milhares de seus apoiadores por ocasião do Dia do Trabalhador.

Em Israel, o chefe de Governo é o primeiro-ministro Netanyahu, enquanto a figura do presidente, cargo ocupado por Isaac Herzog, é principalmente simbólica.

Petro tem criticado repetidamente a resposta do Exército israelense na Faixa de Gaza após os ataques do grupo islamista palestino Hamas em outubro de 2023 em território israelense.

"Os tempos de genocídio, de extermínio de um povo inteiro diante de nós não podem chegar", acrescentou o presidente colombiano.

O ministro israelense das Relações Exteriores, Israel Katz, disse que Petro "decidiu apoiar os monstros mais desprezíveis que a humanidade já conheceu". 

A direção do Hamas declarou, em nota, ter apreciado "enormemente a posição" do presidente. A "consideramos uma vitória pelos sacrifícios do nosso povo e sua causa justa", manifestou-se o movimento, chamando outros países da região a "romper" os vínculos diplomáticos com Israel.

O conflito eclodiu em 7 de outubro, quando comandos do Hamas mataram 1.170 pessoas, a maioria civis, e sequestraram cerca de 250 no sul de Israel, de acordo com uma contagem da AFP baseada em estatísticas israelenses. As autoridades israelenses estimam que 129 pessoas permanecem em cativeiro em Gaza, das quais 34 teriam morrido. 

A resposta militar de Israel matou mais de 34.000 pessoas, a maioria civis, de acordo com o Ministério da Saúde do território governado pelo Hamas. 

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A Bolívia, também governada pela esquerda, e Belize romperam relações com Israel anteriormente. Em novembro, a África do Sul fechou sua embaixada em Tel Aviv até "novo aviso".

Na quarta-feira, o chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, afirmou que Washington está decidido a obter um cessar-fogo, após uma reunião em Tel Aviv com o presidente Herzog.

- Bandeiras palestinas - 

O chanceler Katz insistiu, nesta quarta-feira, em apontar Petro como cúmplice do Hamas. 

"O presidente colombiano havia prometido recompensar os assassinos e estupradores do Hamas, e hoje ele cumpriu a promessa", afirmou o diplomata.

Em outras ocasiões, Petro comparou a morte de milhares de palestinos ao Holocausto judeu perpetrado pelos nazistas, comentários que provocaram reclamações do embaixador de Israel em Bogotá, Gali Dagan, por suposto antissemitismo.

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A Colômbia é um dos principais aliados da África do Sul em seu processo contra Israel na Corte Internacional de Justiça (CIJ) por atos de "genocídio" em Gaza. 

Petro e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva consideram que Netanyahu está violando as normas consagradas na Convenção para a Prevenção do Genocídio de 1948.

Em abril, a Colômbia pediu para a CIJ intervir no processo, porém, até o momento, não recebeu uma resposta. 

No protesto convocado por Petro no centro de Bogotá, alguns manifestantes agitaram bandeiras palestinas.

"Se a Palestina morrer, a humanidade morre", disse Petro em meio a gritos de apoio. 

"Essa é a melhor notícia que podemos receber, não se pode ser cúmplice de assassinos. É nossa resistência também, assim como estamos aqui apoiando nosso governo", disse à AFP Sandra Gutiérrez, uma professora de 38 anos na Praça de Bolívar, que segurava uma bandeira palestina. 

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- Veto ao armamento israelense -

A Confederação das Comunidades Judaicas da Colômbia expressou em um comunicado o desejo de que "as relações de países irmãos", estabelecidas em 1953, "prossigam, deixando abertos os canais de diálogo para o bem de ambos os povos".

Embora Israel seja um dos maiores fornecedores das Forças Armadas colombianas, Petro decidiu, em fevereiro, suspender a compra de suas armas. 

As aeronaves de fabricação israelense, em particular, desempenharam um papel fundamental na guerra do Estado colombiano contra várias guerrilhas e cartéis de drogas. 

O ministro da Defesa, Iván Velásquez, disse esta semana que o governo já está procurando alternativas para abastecer as forças de segurança. 

Petro frequentemente troca farpas com o embaixador Dagan nas redes sociais, no que se tornou uma troca repetitiva de críticas. 

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O governo colombiano garante que apoia toda decisão que leve a um cessar-fogo entre as partes do conflito. 

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© Agence France-Presse

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