Karim Ainouz eleva temperatura em Cannes com 'Motel Destino', na disputa pela Palma de Ouro

O cineasta brasileiro Karim Ainouz elevou a temperatura da mostra competitiva do Festival de Cannes, com a estreia, nesta quarta-feira (22), de seu filme de forte conteúdo sexual, "Motel Destino".

Ainouz, que também disputou a Palma de Ouro de Cannes em 2023 com "Firebrand", um drama histórico britânico, retornou ao Brasil para filmar um thriller erótico em um motel no nordeste do país.

Na trama, Heraldo (Iago Xavier) é um jovem que foge de uma quadrilha de criminosos e se refugia no motel que dá nome ao filme, em meio a quartos de cores berrantes e luzes de neon. Ali, ele conhece o casal que gerencia o local, e se sente atraído pela mulher, Dayana (Nataly Rocha).

"Eu queria fazer um filme que fosse erótico, que fosse sensual, mas uma sensualidade que celebra a vida, não uma sensualidade que fala de morte. Era para mim muito importante, depois de tanto tempo que a gente passou sob o regime autoritário que a gente teve no Brasil, um regime de terror onde a verdadeira obsessão era a morte", disse o cineasta em entrevista à AFP.

"Queria fazer um filme onde a gente vai celebrar a vida. E eu acho que nada é mais vital que o sexo", acrescentou.

O cineasta brasileiro, o único latino-americano na disputa pela Palma de Ouro este ano, é presença frequente no festival e foi premiado em 2019 na mostra Um Certo Olhar pelo filme "A Vida Invisível".

Desta vez, ele concorre com filmes como "Emilia Pérez", um musical ambientado no México dirigido pelo francês Jacques Audiard, e "Tipos de Gentileza", do grego Yorgos Lanthimos.

O americano Sean Baker, conhecido por "Projeto Flórida", também contribuiu para elevar a temperatura em Cannes com "Anora", a história de uma jovem trabalhadora sexual (Mikey Madison) que se casa com um herdeiro muito imaturo.

De tom humorístico e sensível com todos os personagens, o filme provocou risadas e salvas de palmas.

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O tema do sexo por dinheiro "pode ser explorado infinitamente", declarou à AFP Baker, que defende o direito das mulheres de vender seu corpo, embora sempre com proteção.

- Prêmio para 'Simón de la montaña' -

A três dias da cerimônia de premiação, começam a ser anunciados os prêmios das mostras paralelas.

"Simón de la montaña", primeiro longa-metragem do diretor argentino Federico Luis, venceu o grande prêmio da Semana da Crítica nesta quarta-feira.

O filme narra a amizade que Simón (Lorenzo "Toto" Ferro) estabelece com um grupo de pessoas com deficiência intelectual em uma localidade dos Andes, para a surpresa de seus pais.

Esta conquista chega dias após o cinema argentino se manifestar em Cannes contra a política ultraliberal do presidente Javier Milei.

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A Semana da Crítica também concedeu o prêmio da Fundação Louis Roederer ao ator Ricardo Teodoro, um dos protagonistas do filme brasileiro "Baby".

Teodoro interpreta um homem mais maduro que se relaciona com um jovem de 21 anos, mostrando a vida da comunidade LGBTQIA+ na cidade de São Paulo.

- À espera de Rasoulof -

O português Miguel Gomes, por sua vez, optou por um tom solene nesta quarta com "Grand Tour", a história trágica de um britânico que mora em Mianmar em 1917 e abandona sua noiva para fazer uma viagem caótica pela Ásia.

Gomes, que participa pela primeira vez de Cannes, ganhou fama com "Tabu" (2012), premiado no Festival de Berlim.

Filmado em preto e branco, o novo longa é uma narrativa complexa, ambientada na era colonial, mas que alterna entre cenas teatrais e imagens gravadas na atualidade.

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Gomes passeia com sua câmera por mercados tailandeses, templos birmaneses e restaurantes japoneses, para então apresentar planos com decorações interiores.

A apenas dois dias do fim da mostra competitiva, todas as expectativas estão voltadas para o iraniano Mohammad Rasoulof e seu filme, "The Seed of the Sacred Fig", que será exibido na sexta-feira.

O cineasta, que fugiu de seu país após ser condenado a cinco anos de prisão e a receber chibatadas, apresentará pessoalmente em Cannes o filme, confirmou a organização do festival na terça-feira.

Rasoulof, de 51 anos, retornará à Croisette pela primeira vez desde 2017, quando foi premiado na mostra "Um Certo Olhar" por "A Man of Integrity".

Seu novo trabalho cinematográfico narra a história de um juiz iraniano que enfrenta uma paranoia e começa a suspeitar da própria esposa e filhas durante os protestos em Teerã, segundo um comunicado distribuído pela organização do festival.

O diretor anunciou na semana passada que fugiu do país de forma clandestina, a pé, uma viagem que descreveu como "exaustiva e perigosa".

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Entre julho de 2022 e fevereiro de 2023, Rasoulof permaneceu preso e saiu graças a uma anistia geral concedida a milhares de pessoas após grandes manifestações pró-democracia.

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© Agence France-Presse

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