Campanha de Biden vira de ponta-cabeça após atentado contra Trump

A tentativa de assassinato de Donald Trump virou de cabeça para baixo a campanha de Joe Biden, obrigando o presidente a reduzir a intensidade de seus ataques, ao mesmo tempo em que lhe dá tempo para lidar com seus próprios problemas políticos.

O apelo do presidente dos Estados Unidos para "baixar a temperatura" após os tiros disparados contra Trump o priva, pelo menos por enquanto, de sua estratégia de atacar seu antecessor e tratá-lo como uma ameaça para a democracia americana.

Tudo isso poucos dias depois de Biden tentar concentrar sua campanha em Trump, após semanas de agitação dentro do Partido Democrata em relação a sua idade e saúde, e após um desempenho desastroso em um debate contra o republicano.

Em entrevista à emissora NBC nesta segunda-feira (15), Biden declarou que havia cometido um "erro" ao pedir que Donald Trump fosse colocado no "centro do alvo" dias antes da tentativa de assassinato de seu adversário nas eleições.

"Foi um erro usar a palavra", disse Biden na Casa Branca ao entrevistador Lester Holt da emissora NBC, quando este lhe perguntou se não tinha ido longe demais com sua narrativa. "Queria dizer colocar o foco sobre ele, no que está fazendo", explicou o presidente.

Após o ataque a tiros de sábado, os republicanos passaram a acusar Biden de criar as condições políticas que levaram um atirador a tentar matar Trump, ignorando o histórico de apelos à violência de seu próprio candidato.

Resta saber por quanto tempo Biden pode se permitir ser benevolente com Trump.

"Como se fala de ameaça à democracia, que é real, quando um presidente diz coisas como ele [Trump] diz. Você simplesmente não fala nada porque pode incitar alguém?", questionou o presidente à NBC.

"Não estou envolvido nessa retórica. Agora, meu adversário está, ele [Trump] fala de como haverá um banho de sangue quando perder", acrescentou.

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Biden também criticou Trump por pedir anistia a seus seguidores envolvidos no ataque ao Capitólio de 6 de janeiro de 2021 e por fazer piada sobre o ataque com um martelo contra o marido de Nancy Pelosi, ex-presidente da Câmara dos Representantes.

O democrata de 81 anos também aproveitou a entrevista para defender sua candidatura apesar dos pedidos de membros de seu partido para que se retire da disputa.

"Estou velho", disse Biden. "Mas sou apenas três anos mais velho do que Trump. E minha acuidade mental é muito boa."

- Novo debate em setembro -

O presidente afirmou que deseja debater novamente com o republicano, após um primeiro evento desastroso para o democrata no final de junho.

"Vou debater com ele no momento em que concordamos debater (...) em setembro", declarou na entrevista à NBC. O desempenho de Biden no debate de junho aumentou as dúvidas sobre a capacidade de Biden de exercer um segundo mandato.

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Em um discurso no Salão Oval, focado na união, Biden insinuou que em breve voltará a criticar o republicano.

"Continuarei a falar com firmeza em defesa de nossa democracia, defendendo nossa Constituição e o Estado de Direito, pedindo ação nas urnas e que não haja violência em nossas ruas", declarou.

Biden afirmou que será "criticado" na Convenção Nacional Republicana, que começou nesta segunda-feira (15), mas ainda assim viajará "esta semana" para defender o programa democrata.

Apesar de cancelar uma ida ao Texas, Biden seguirá com uma visita planejada ao estado-pêndulo (sem tendência política definida) de Nevada.

Em um artigo de opinião no Washington Post, a colunista Karen Tumulty escreveu que "dificilmente poderia haver um momento pior para Biden ser forçado a redefinir sua estratégia contra Trump".

Os tiros contra Trump, no entanto, poderiam ajudar Biden na luta por sua própria sobrevivência política.

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"Obviamente, isso muda os cálculos para aqueles que pedem que Biden se retire da disputa", explicou à AFP Peter Loge, cientista político da Universidade George Washington. "Isso lhe dá tempo".

- 'Louco' e 'velho demais' -

A crise democrata sobre a idade de Biden após o debate dominou a campanha nas últimas semanas, mas com os tiros de sábado, a revolta sobre sua candidatura ficou abruptamente silenciosa.

O congressista Dean Phillips, ex-candidato sem sucesso nas primárias, declarou ao site Axios que seria "antipatriótico e sem princípios" levantar o assunto agora.

Biden também tentou dar um tom presidencial ao atentado, reagindo rapidamente no sábado e dirigindo-se à nação no domingo em um terceiro discurso no Salão Oval durante sua presidência.

A mensagem de união em aparições como essa não é direcionada apenas aos republicanos, mas também é um sinal para os democratas de que devem apoiá-lo como líder em um momento de crise.

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O atentado pode unir os democratas, mas também pode condenar a candidatura à reeleição de Biden, já que ele está em desvantagem na maioria das pesquisas.

As icônicas imagens de um Trump ensanguentado levantando o punho após ser alvo de tiros aumentam as esperanças republicanas de uma vitória esmagadora em novembro.

No entanto, Loge acredita que o efeito pode ser limitado porque "muitos eleitores veem Trump como louco demais e Biden como velho demais, e um atentado não muda isso".

O cientista político acrescentou que focar no impacto imediato do ataque a tiros nas campanhas é um erro.

"Se transformarmos a violência política em parte da estratégia de uma campanha, perdemos o sentido da violência política e acabamos a normalizando", afirmou.

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© Agence France-Presse

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