Fifa anuncia investigação sobre canto racista de argentinos contra França

A Fifa anunciou nesta quarta-feira (17) a abertura de uma investigação sobre o canto racista dos jogadores argentinos contra a seleção francesa durante as comemorações no ônibus da equipe após a conquista do título na Copa América.

O escândalo também levou o Chelsea, da Inglaterra, a abrir um processo disciplinar contra o meia argentino Enzo Fernández, que gravou e transmitiu ao vivo o vídeo que provocou o escândalo.

- Versão completa na Copa do Catar-2022 -

"A Fifa tomou conhecimento de um vídeo que circula nas redes sociais e o incidente é objeto de uma investigação", afirmou a entidade em um comunicado.

"A Fifa condena com veemência qualquer forma de discriminação, por parte de qualquer pessoa, incluindo jogadores, torcedores e dirigentes", acrescenta. 

Desde segunda-feira, circula nas redes sociais um vídeo em que vários jogadores argentinos são vistos comemorando o título da Copa América-2024, nos Estados Unidos, conquistado no domingo, em Miami, ao vencer a Colômbia por 1 a 0 na final, e começam a cantar uma música que contém termos racistas, antes de um corte na transmissão.

A versão completa do canto já havia sido entoada por torcedores argentinos para atacar os integrantes da seleção francesa e Kylian Mbappé, em particular após a final da Copa do Mundo do Catar-2022, vencida pela Argentina contra a França (3-3, 4-2 nos pênaltis). 

O canto inclui frases como "eles jogam pela França, mas vêm de Angola". Sobre Mbappé afirma "sua mãe é nigeriana [na verdade é franco-argelina], seu pai é camaronês, mas no documento tem nacionalidade francesa".

Quando foi transmitido ao vivo pela televisão argentina, o repórter interrompeu o grupo ao perceber o conteúdo da letra. 

Em seguida, a Federação Francesa de Futebol (FFF) apresentou queixa por declarações racistas nas redes sociais, assim como a SOS Racismo.

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- 'Racismo sem pudor' -

Na terça-feira, a FFF anunciou que levaria o caso à Fifa e que apresentará uma denúncia à Justiça "por palavras ofensivos de cunho racista e discriminatório".

O zagueiro francês Wesley Fofana, colega de time de Fernandéz no Chelsea, reagiu na rede social X com a frase: "Futebol em 2024: racismo sem pudor".

"Lamentável", acrescentou o zagueiro francês do Barcelona, Jules Koundé, nas redes sociais.

Diante do escândalo, o jogador argentino publicou uma mensagem no Instagram para pedir desculpas pelo vídeo.

"A canção inclui uma linguagem muito ofensiva e não há absolutamente nenhuma desculpa para essas palavras", admitiu.

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"Sou contra todas as formas de discriminação e peço desculpas por ter me deixado levar pela euforia das comemorações da Copa América. O vídeo, esse momento, essas palavras, não refletem minhas crenças nem meu caráter. Lamento muito", completou.

O Chelsea afirmou em um comunicado que "reconhece e aprecia as desculpas públicas" do jogador, mas também anunciou a abertura de um processo disciplinar interno.

Na França, onde a seleção olímpica argentina está se preparando para os Jogos de Paris 2024, o técnico Javier Mascherano defendeu os compatriotas em geral, e Enzo Fernández em particular. 

"Eu conheço o Enzo, ele é um garoto legal e não tem nenhum tipo de problema com isso. O que acontece é que muitas vezes, dentro de uma comemoração, você pode pegar um trecho de um vídeo e tirá-lo do contexto", disse o ex-jogador que defendeu clubes como Corinthians, Liverpool e Barcelona. 

"Nós, argentinos, se há algo que não somos, é racistas, longe disso", garantiu. 

Na noite de quarta-feira, a vice-presidente argentina, Victoria Villarruel, também se juntou à defesa dos jogadores da 'Albiceleste'. 

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"Nenhum país colonialista vai nos intimidar por um canto de arquibancada ou por dizer verdades que não querem admitir. Chega de simular indignação, hipócritas. Enzo [Fernández], eu apoio você", escreveu ela numa extensa publicação. 

Minutos depois do tuíte de Villarruel, foi anunciada a demissão do subsecretário de Esportes Julio Garro, que pela manhã havia dito em entrevista à rádio que Lionel Messi e o presidente da Associação de Futebol Argentino (AFA) deveriam pedir desculpas pelo incidente.

"Nenhum governo pode dizer à Seleção Argentina, Campeã Mundial e Bicampeã Americana ou a qualquer outro cidadão o que comentar, o que pensar ou o que fazer. Por esta razão, Julio Garro não é mais Subsecretário de Esportes da Nação", publicou a conta oficial da presidência no X.

Argentina e França construíram uma grande rivalidade nos últimos anos, com os europeus eliminando os sul-americanos nas oitavas de final da Copa do Mundo de 2018 na Rússia (4-3), e a Albiceleste dando o troco quatro anos depois, na final do Mundial do Catar.

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© Agence France-Presse

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