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Análise: Todos nós temos nossos pulmões tatuados de fumaça das queimadas

Todas nós temos nossos pulmões tatuados pela fumaça de queimadas, afirmou o professor de patologia da Faculdade de Medicina da USP Paulo Saldiva em entrevista ao Análise da Notícia.

Essa fuligem que a gente passa a mão e percebe no dedo está dentro do nosso pulmão. E como a gente tem mecanismos de retirar, que você limpa o pulmão, quando tem muito, você não tira. E aí isso provoca uma reação inflamatória. A gente não tem febre, mas tem inflamação. Sabe tatuagem? Tatuagem é exatamente isso. Você tem um pigmento tóxico, só que ele tem cor e aquilo fica aprisionado na pele. Então todos os pulmões são tatuados.

Eu faço autópsia, eu vejo o pulmão de pessoas não fumantes que moram em São Paulo, todos nós temos esse tipo de fuligem. No caso, reproduzida por veículos ou indústrias.

Paula Saldiva, professor de patologia da FMUSP.

Saldiva destacou que o tumor de pulmão que mais cresce no mundo está associado à poluição do ar e ressaltou que São Paulo registra entre 3.000 e 4.000 mortes por ano relacionadas à poluição.

Hoje, o tumor de pulmão que mais cresce no mundo é um tipo particular de tumor de pulmão em mulheres não fumantes que está associado com poluição do ar. Inclusive, tem um mecanismo molecular próprio que está sendo esclarecido.

Dependendo das características genéticas da fase de vida ou das doenças que a pessoa tem, essa poluição pode ser o diferencial entre a saúde e o adoecimento e eventualmente entre a vida e a morte. Em São Paulo, o excesso de mortos atribuíveis à poluição chega a mais ou menos umas 3 mil a 4 mil por ano, uma estimativa muito conservadora.

Paula Saldiva, professor de patologia da FMUSP.

O professor de patologia da Faculdade de Medicina da USP citou um estudo publicado na Lancet que mostrou que as queimadas no Brasil podem causar um prejuízo de um bilhão de dólares por ano.

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No Brasil, a gente tem estudos, um desses publicados na Lancet, no ano passado, mostrando que o que você perde por essas queimas de floresta em anos de vida produtiva. No Brasil, dependendo da região, varia entre 0 até mais ou menos 5 anos de vida produtiva por 100 mil habitantes, mas dá pra estimar em torno de quase um bilhão de dólares por ano. Um bilhão de dólares por ano de prejuízo pra vida das pessoas, que se reflete economicamente, por causa das queimadas no Brasil.

Lógico que não é o preço dos custos diretos, é o preço dos custos devido a essa perda de produtividade. É lógico que é difícil você colocar, porque para você valorar isso tem que pegar o ano de vida e multiplicar pelo PIB médio por cá, o que significa que uma vida na Suíça vai valer mais do que uma vida em São Paulo, ou muito mais do que uma vida em Angola ou Moçambique. Então, por isso que esse cálculo você tem que ser colocado com cuidado.

Paula Saldiva, professor de Patologia da FMUSP.

O Análise da Notícia vai ao ar às terças e quartas, às 13h e às 14h30.

Onde assistir: Ao vivo na home UOL, UOL no YouTube e Facebook do UOL.

Veja abaixo o programa na íntegra:

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