Zelensky diz que Ucrânia e o mundo querem a Rússia na próxima cúpula da paz

O mundo inteiro, incluindo a Ucrânia, quer que a Rússia participe da segunda cúpula de paz para pôr um fim definitivo à guerra entre os dois países vizinhos, declarou o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, a meios de comunicação franceses, incluindo a AFP.

Diante do avanço cada vez maior das forças russas na linha de frente e da diminuição e incerteza sobre a ajuda militar de seus aliados, Zelensky lançou uma ambiciosa ofensiva diplomática para encerrar o conflito iniciado em fevereiro de 2022.

Em junho, o presidente ucraniano reuniu dirigentes e funcionários do alto escalão de dezenas de países em um complexo hoteleiro de Burgenstock, na Suíça, para realizar a primeira cúpula, que a Rússia tachou de perda de tempo e da qual a China recusou participar.

Embora o Kremlin não tenha sido convidado para a primeira reunião, agora é o momento de Moscou sentar-se à mesa, afirmou Zelensky..

"A maior parte do mundo diz hoje que a Rússia deve estar representada na segunda cúpula, caso contrário, não conseguiremos resultados significativos", disse nesta terça-feira (21) no oeste da Ucrânia.

"Como o mundo inteiro quer que eles estejam na mesa, não podemos ser contra", acrescentou.

O presidente russo, Vladimir Putin, indicou estar aberto às negociações, mas ressaltou que só ordenaria um cessar-fogo se Kiev renunciasse efetivamente aos territórios que Moscou reivindica como seus.

- "Um grande desafio" -

A iniciativa de Zelensky se concentra em um amplo plano de 10 pontos que restauraria a integridade territorial ucraniana, permitiria o retorno dos prisioneiros de guerra e daria à Ucrânia garantias energéticas e econômicas.

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O chefe de Estado reconheceu que a China é um ator chave, mas sinalizou que não quer a sua mediação e instou, em vez disso, Pequim a pressionar o Kremlin para que ponha fim à invasão.

"Se a China quiser, pode forçar a Rússia a parar esta guerra", afirmou.

O presidente ucraniano obteve um amplo apoio internacional aos seus esforços de paz, mas criticou alguns desses mesmos aliados por impedir que seu Exército usasse as armas ocidentais para atacar o interior do território russo.

"Não poder usar todas as armas de que precisamos para deter esse inimigo é um grande desafio. O que vocês fariam em nosso lugar?", questionou.

Também criticou a estagnação das entregas de armas, dizendo que a Ucrânia ainda espera receber armamento de seus aliados para equipar as tropas recentemente mobilizadas.

Zelensky se reuniu com a mídia francesa no ginásio de uma escola em Rivne, cidade do oeste da Ucrânia.

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No dia anterior, havia entregue prêmios às forças especiais da região de Kharkiv, localizada na linha de frente e a mais de 800 km de distância.

- "Sanções parciais" -

Apesar de sua agenda apertada, que este ano incluiu visitas a capitais asiáticas e europeias, o presidente ucraniano não compareceu à cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris.

"Eu teria adorado comparecer se não fosse um momento tão difícil em meu país. É um momento tenso no leste do nosso país", declarou, em referência à tomada pela Rússia de uma série de localidades na região industrial de Donbass.

Zelensky também criticou a decisão do Comitê Olímpico Internacional (COI) de permitir que alguns atletas russos competissem nos Jogos de Paris sob bandeira neutra.

"Acho que essas sanções são medidas parciais", afirmou.

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- Risco imprevisível dos EUA -

Enquanto a incerteza paira sobre a extensa linha de frente oriental na Ucrânia, Zelensky admitiu que a corrida presidencial nos Estados Unidos - um aliado político e militar vital - apresenta "riscos".

Washington forneceu dezenas de bilhões de dólares em ajuda militar a Kiev desde que a Rússia iniciou sua invasão em grande escala da Ucrânia.

Mas uma vitória do candidato republicano Donald Trump, que diz que poderá forçar as partes a alcançarem um acordo negociado, colocaria em xeque a continuidade do apoio americano.

"Não podemos influenciar nenhuma eleição, mas, claro, os Estados Unidos são hoje um desafio. E há riscos que nenhum de nós pode prever", afirmou o presidente ucraniano aos jornalistas.

Por sua vez, Kamala Harris, que se apresenta como candidata democrata à Casa Branca, apoiou a postura pró-Ucrânia do presidente Joe Biden.

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Segundo Zelensky, sua equipe tem estado em contato tanto com os assessores de Harris quanto com a equipe de campanha de Trump.

"Como presidente da Ucrânia, devo, é claro, manter um diálogo entre minha equipe e as equipes de Biden, Trump e hoje Harris", declarou.

"Precisamos estabelecer todos esses contatos e falar sobre como poderia ser o nosso futuro se um lado ou outro ganhar as eleições", acrescentou.

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© Agence France-Presse

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