Bolsonaro perde medo da cadeia
Inelegível, Bolsonaro fez do 7 de Setembro um novo comício. Apresentou-se como candidato à impunidade. Satanizou Xandão, questionou a derrota de 2022, hasteou a bandeira da "anistia" para o golpismo e previu que as acusações feitas contra ele cairão por "falta de materialidade".
O capitão perdeu o medo da cadeia. Por mal dos pecados, sua desfaçatez é respaldada pelos fatos. Bolsonaro presidiu o país por quatro anos como um símbolo da estupidez inimputável. Embora tenha perdido o escudo da imunidade presidencial há 20 meses, o símbolo ainda não pagou por tudo o que simboliza.
Manda a praxe que os chefes dos Três Poderes compareçam à celebração oficial do Dia da Pátria, em Brasília. Neste ano, o Judiciário exagerou. Antevendo os ataques de Bolsonaro, seis dos onze ministros do Supremo —ou 54,5% da Corte— desceram à tribuna de Lula. Além de Moraes, deram as caras Barroso, Gilmar, Toffoli, Fachin e Zanin.
Embora ausente, Dino enalteceu nas redes sociais "a coragem e a independência" de Xandão, que roubou a cena. Chamado de "cabeça de ovo" na Avenida Paulista, foi ovacionado na Esplanada dos Ministérios. No caminhão de som de Bolsonaro, foi tratado como "ditador". Na tribuna de honra de Lula, foi recepcionado como herói da resistência.
Em São Paulo, a claque bolsonarista entoou o refrão "cabeça de ovo, Supremo é o povo". Em Brasília, a calva suprema acenou para as arquibancadas ao ouvir gritos de "Xandão". Nenhum dos dois cenários orna com a discrição que deveria caracterizar um magistrado.
Se não consegue abreviar o encontro de Bolsonaro com um lote de condenações criminais, o relator-geral da República deveria evitar a transformação de sua toga em adereço da polarização, em enfeite da fanfarra bolsonarista.
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