Valência concentra busca por vítimas das enchentes no subsolo

As operações de resgate dos desaparecidos nas inundações na região espanhola de Valência se concentraram, nesta segunda-feira (4), em estacionamentos e subsolos, com as autoridades preparadas para receber até 400 vítimas fatais, muito mais do que as 200 encontradas até agora.

No dia seguinte ao domingo caótico, em que os reis da Espanha e o primeiro-ministro foram recebidos com insultos e bolas de lama por uma população desesperada e enfurecida em uma das localidades afetadas na região de Valência, a prioridade continua sendo a localização dos desaparecidos e a identificação dos corpos.

Para isso, o chefe da Unidade Militar de Emergências (UME), atualmente em operação na Comunidade Valenciana, explicou que está sendo preparado um necrotério para 400 corpos, quase 200 a mais do que o número atual.

"Preparamos um necrotério que hoje tem capacidade para 400 falecidos", explicou Javier Marcos, general-chefe da UME, em coletiva de imprensa em Madri.

"Estes falecidos não se encontram em condições, como podem imaginar, de normalidade [...] Precisam de um espaço digno, uma atenção digna", acrescentou Marcos.

A Justiça já autorizou a entrega de "cerca de 50 corpos" aos familiares, informou o Superior Tribunal de Justiça de Valência na rede social X.

- Milhões de litros de água -

Uma das maiores preocupações é o estacionamento subterrâneo em Bonaire, o centro comercial de Aldaia, uma cidade de 31 mil habitantes nas imediações de Valência.

"O local está devastado na parte superior. E a parte inferior é uma incógnita terrível. Não temos certeza do que vamos encontrar", disse o prefeito da cidade, Guillermo Luján, à emissora pública de televisão TVE.

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O chefe da UME disse que "todas as capacidades das Forças Armadas para esvaziar esse estacionamento estão em andamento, mas há milhões de litros".

Os mergulhadores conseguiram entrar no estacionamento, mas até o final da manhã, a polícia informou que não havia encontrado corpos nos 50 veículos inspecionados.

A agência estatal de meteorologia, Aemet, trouxe um certo alívio ao assegurar que a "crise meteorológica" sobre Valência havia terminado, mas a preocupação se deslocou para o norte, até Barcelona, onde foi decretado alerta vermelho por algumas horas.

As chuvas torrenciais em Barcelona levaram à suspensão da circulação dos trens durante algumas horas e ao cancelamento de 153 voos no aeroporto de Barcelona, segundo o ministro dos Transportes Óscar Puente.

- 'Nasci aqui e perdi tudo' -

A enchente provocada pelas chuvas de terça-feira deixou pelo menos 218 mortos na Espanha, quase todos (214) em Valência, no leste, uma a mais do que no domingo, depois que as autoridades anunciaram, na noite desta segunda-feira, a descoberta de uma nova vítima. Três pessoas morreram na vizinha Castilla-La Mancha e outra na Andaluzia.

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As autoridades alertam que o número de vítimas continuará aumentando e, até o momento, não divulgaram uma cifra de desaparecidos.

Nas localidades mais afetadas pelas inundações, a população demonstra angústia e irritação, com as ruas ainda bloqueadas por carros empilhados ou móveis arrastados pela correnteza e áreas ainda sem energia elétrica ou sinal de telefonia.

"Eu nasci aqui e perdi tudo", declarou à AFP Teresa Gisbert, de 62 anos, em Sedaví, uma localidade de 10 mil habitantes ao sul de Valência.

A água passou de um metro de altura em sua residência.

"Diziam 'alerta de água', mas deveriam ter afirmado que era uma inundação", lamentou essa mulher, que, assim como muitos, reclama da demora nos alertas enviados à população no dia do desastre.

- Dia de fúria -

A raiva ficou plenamente visível no domingo, quando os reis da Espanha, Felipe VI e Letizia, o primeiro-ministro Pedro Sánchez e o chefe do governo da região de Valência, Carlos Mazón, foram recebidos com gritos de "assassinos" e arremesso de lama, pedaços de pau e outros objetos em Paiporta, um município valenciano duramente afetado.

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Em um cenário de grande tensão, Sánchez foi retirado do local e Mazón deixou a área pouco depois, mas os reis, com a roupa e o rosto manchados de lama, ficaram durante algum tempo tentando conversar com as pessoas, protegidos por seus seguranças, que foram empurrados.

Após alguns minutos, os dois se retiraram do local e cancelaram a visita à outra cidade afetada.

O ministro dos Transportes, Óscar Puente, reconheceu em entrevista ao canal La Sexta que foi "um erro" organizar a visita sem levar em consideração "a indignação que a comitiva encontraria".

Devido às más condições das estradas e ao dia chuvoso, as autoridades mantiveram nesta segunda-feira as restrições de tráfego em várias estradas da região de Valência, onde as escolas permanecerão fechadas.

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© Agence France-Presse

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