Agentes sul-coreanos não conseguem prender presidente afastado
Policiais e agentes anticorrupção da Coreia do Sul tentaram cumprir nesta sexta-feira (3) um mandado de prisão contra o presidente afastado Yoon Suk Yeol, no âmbito da investigação pela declaração de uma lei marcial, mas, segundo a agência Yonhap, foram confrontados por membros do "serviço de segurança" em sua residência.
O dirigente conservador, que mergulhou o país em uma grave crise ao declarar, pela primeira vez durante a democracia no país, uma lei marcial em 3 de dezembro, pode se tornar o primeiro presidente sul-coreano a ser preso ainda no cargo.
Afastado de suas funções pela Assembleia Nacional, Yoon também pode ser acusado de "insurreição", um crime punível com prisão perpétua ou pena de morte.
Até que o Tribunal Constitucional confirme seu impeachment, segue sendo oficialmente chefe de Estado.
Investigadores do Escritório de Combate à Corrupção, responsável pelo caso, compareceram nesta sexta à residência de Yoon em Seul, onde ele está recluso desde que a Justiça emitiu esta semana um mandado de prisão contra ele.
A equipe, que chegou em cinco veículos cujo trajeto foi transmitido ao vivo pela televisão, ficou inicialmente bloqueada por cerca de dez veículos na via de acesso. Finalmente conseguiu entrar na propriedade "subindo uma encosta", afirmou um funcionário do escritório.
No entanto, os cerca de cem policiais e membros do Escritório de Combate à Corrupção encontraram "mais de 200 pessoas com os braços entrelaçados para impedir a passagem", afirmou, acrescentando que houve "enfrentamentos menores e maiores".
Após cerca de quarenta minutos de tenso confronto com os guarda-costas presidenciais, a equipe decidiu se retirar, temendo por sua segurança.
Os investigadores têm até segunda-feira para executar o mandado de prisão, que expira após sete dias.
Um de seus advogados, Yoon Kap-keun, insistiu nesta sexta em que o mandado de prisão é "ilegal e inválido" e que, portanto, sua execução "é ilegítima". "Foram tomadas ações legais a respeito da execução ilegal do mandado", afirmou.
Mas o chefe do escritório anticorrupção, Oh Dong-woon, alertou que se alguém tentar impedir a detenção pode ser responsabilizado judicialmente.
- Forte dispositivo policial -
A colaboração dos serviços de segurança do Yoon na investigação era incerta desde o começo. Nas últimas semanas, seus membros haviam bloqueado várias vezes as ordens de busca nas dependências presidenciais.
Desde que se fechou na residência, Yoon, de 64 anos, prometeu enfrentar as autoridades que querem prendê-lo e interrogá-lo por ter declarado a lei marcial e enviado o Exército à Assembleia Nacional.
Centenas de partidários de Yoon estão concentrados nos arredores da residência, alguns passaram a noite toda ali. A área está isolada por um importante dispositivo policial.
Diante de uma forte presença judicial e midiática, os partidários do presidente gritavam seu nome e entoavam cânticos como "O mandado de prisão ilegal não é válido".
Lee Hye-sook, apoiador de Yoon de 57 anos, garantiu que os líderes opositores "tentam transformar o país em um Estado socialista, similar à Coreia do Norte", um argumento utilizado várias vezes pelo presidente.
"Enfrentamos a uma situação na qual nosso país pode preservar a democracia liberal ou perdê-la", afirmou Choi Sung-hwan, de 47 anos, no local desde quinta-feira.
- "Insurreição" -
A crise política começou na noite de 3 de dezembro, quando Yoon declarou de surpresa a lei marcial.
Horas mais tarde, viu-se obrigado a voltar atrás, pressionado pelos deputados opositores que são maioria na Assembleia Nacional e por milhares de manifestantes nas ruas.
Tanto o presidente quanto alguns de seus colaboradores são alvo agora de uma investigação por "insurreição".
Nesta sexta-feira, o Ministério Público o indiciou pelo mesmo crime dois oficiais militares de alta patente, que já estão presos.
Yoon não atendeu a três intimações para ser interrogado feitas pelos investigadores, que finalmente optaram por pedir à Justiça um mandado de prisão contra ele.
Apesar do anúncio do fracasso da tentativa de prisão nesta sexta-feira, os apoiadores de Yoon consideram "muito cedo para ficarem aliviados".
"Se sairmos, [os investigadores] podem voltar e tentar prender o presidente novamente", disse Lee Hye-sook à AFP. "Muitos de nós, ficarão aqui" até 6 de janeiro, quando a ordem expira.
Segundo a imprensa sul-coreana, os responsáveis deste órgão querem prender Yoon e levá-lo a seu escritório em Gwacheon, nos arredores de Seul, para um interrogatório.
Depois, o presidente afastado pode permanecer detido por até 48 horas em virtude da ordem de prisão atual. Para mantê-lo mais tempo preso, os investigadores devem solicitar outro mandado à Justiça.
Neste tenso contexto, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, chegará na segunda-feira à Coreia do Sul, aliado de Washington na região.
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