Estudantes da Mackenzie fazem ato contra impeachment da presidenta Dilma
Estudantes da Universidade Presbiteriana Mackenzie fizeram na noite de hoje (23), na Rua Maria Antonia, no centro da capital, um ato contra o impeachment da presidenta da República Dilma Rousseff. O ato foi intitulado "Mackenzistas contra o Golpe: A História Não se Repetirá!". Os estudantes impediram o tráfego de carros na rua e, sob chuva, discursaram sobre um caminhão de som.
A manifestação ocorreu do lado de fora do campus da universidade - localizado em Higienópolis, no centro - em frente ao prédio da antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP), local onde em 1968 ocorreu o episódio que ficou conhecido como a Batalha da Maria Antonia.
"Quisemos fazer o ato na Maria Antonia já que a universidade não ofereceu espaço para a gente. Vai ficar simbólico, relembrando o que aconteceu em 1968 e mostrando que a Mackenzie pode ter uma cara nova e que não existe só um pessoal reacionário dentro da universidade, mas tem gente também querendo mudar isso, e querendo resistir", disse a aluna Jamyle Hassan Rkain, estudante de jornalismo.
Manifesto
Um manifesto, lido pelo estudante de direito Calebe Paranhos, expôs a preocupação dos alunos diante da crise política do país. "É com grande preocupação que vemos a repetição de fatos que resultaram no golpe de 1º de abril de 1964", disse.
Segundo o manifesto, mesmo diante da devassa feita no governo federal, nenhum crime pode ser imputado a presidenta Dilma Rousseff e a sua administração. "A oposição golpista, talvez em razão das seguidas derrotas nas eleições presidenciais, joga no lixo todo processo democrático, ignorando 54,5 milhões de votos, e tenta, de qualquer modo, e à custa de paralisar o país, derrubar um governo democraticamente eleito e assumir a Presidência da República à revelia do estado democrático de direito".
Palavras de ordem como "não vai ter golpe" e "Eduardo Cunha na cadeia" foram gritadas pelos alunos, que levantaram cartazes criticando a cobertura da mídia sobre a crise política e decisões do juiz federal Sergio Moro.
"Entendemos que em todo o tempo, mas principalmente em momentos de perigosos movimentos golpistas, como os presenciados, a universidade é local para resistência aos anseios antidemocráticos, para a defesa da Constituição Federal, o devido processo legal, e do estado democrático de direito", diz o manifesto.
Segundo a estudante de direito Melissa Cambuhy, o processo de impeachment pretende, na verdade, atacar os direitos sociais e acabar com o processo desenvolvimentista do país. "Estamos aqui para denunciar e barrar o golpe que está em curso em nosso país. Esse golpe que vem sendo orquestrado, como em 1964, pela mídia e pelo setor empresarial", disse. "O golpe busca o desmonte dos nossos direitos sociais, que foram conquistados com tantas mortes, tanto sangue e tanta tortura sofrida."
Batalha da Maria Antonia
Em 3 de outubro de 1968, estudantes da Universidade Mackenzie e da Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP) entraram em confronto na Rua Maria Antonia, onde ficavam as duas instituições.
A "batalha da Maria Antonia" teve início devido a um pedágio cobrado pelos alunos da USP para levantar fundos para o 30° Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE). A maioria dos alunos da Mackenzie eram simpatizantes do regime militar, sendo que alguns deles integrantes do Comando de Caça aos Comunistas (CCC).
A Rua Maria Antonia transformou-se em uma verdadeira zona de guerra: a fachada do prédio da USP foi destruída, houve focos de incêndio e dezenas de feridos. Um estudante secundarista, José Guimarães, morreu atingido por um tiro na cabeça.
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