Refugiados compartilham histórias e vivências em feira no Rio
A libanesa Farah Al Najjar está há 3 anos no Brasil; o venezuelano Alejandro Echezuria, há 7 anos; e, o congolês Alfred Camara vive no país há 8 anos. Os três precisaram deixar os países de origem seja por conta de guerras, de conflitos sociais e econômicos ou das mais variadas formas de violação de direitos humanos e buscar refúgio no Brasil. Aos poucos, eles constroem uma nova vida, mas contam que o percurso não é fácil.
Antes de vir para o Brasil, Camara vivia na capital da República Democrática do Congo, Kinshasa. O país vive constantes conflitos. Foi para fugir da guerra que Camara chegou ao Brasil, onde conseguiu refúgio. Ele fez cursos de coquetelaria e chegou a trabalhar em um restaurante no Leblon, bairro nobre da zona sul carioca, mas acabou sendo demitido na pandemia. Hoje ele tem a própria barraca, onde vende drinks na Pedra do Sal, local de importância histórica e cultural no centro do Rio.
Alfred Camaradurante prepara drinks no Rio Refugia 2024, no Sesc Tujuca - Tomaz Silva/Agência Brasil
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"Meu sonho, o que eu queira um dia, se Deus quiser, é abrir uma empresa para poder ajudar o povo refugiado para chegar no Brasil".
Camara transferiu, neste final de semana, a barraca da Pedra do Sal para o Rio Refugia 2024. O evento está na nona edição e marca o Dia Mundial do Refugiado, dia 20 de junho. A feira realizada no Sesc Tijuca, na zona norte do Rio de Janeiro, reúne gastronomia, oficinas culturais, moda, artesanato e atividades para as crianças. São 27 barracas com representantes de 12 países.
Próxima à Ngolonisadrinks, de Camara, está a barraca Comida Chévere, de Echezuria. "Vendemos uma comida típica da Venezuela, que se chama arepa, feita com farinha de milho pré-cozida", explica o venezuelano, que veio para o Brasil há 7 anos com dois filhos, um de 7 e outro de 10 anos e com a esposa, na época, grávida de oito meses da terceira filha do casal.
"Na verdade, não foi uma escolha, porque quando a gente foge da Venezuela, ou quando qualquer pessoa foge de um país, a gente não tem escolha, a gente vai para onde tem que ir. Então, não foi uma escolha, assim, vou para lá. A gente chegou aqui de paraquedas e a gente ficou", conta Echezuria.
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Quero receberNa feira, ela mostra aos visitantes a caligrafia árabe. "Na realidade, é bom mostrar a nossa cultura para as pessoas porque, normalmente, só se conhece a parte negativa da nossa cultura. E especialmente a cultura libanesa, ela é uma mistura de culturas, por estar próxima à Europa, Ásia e África. Eu penso que está no centro do mundo. É uma mistura, as pessoas falam árabe, inglês, francês, tudo junto. Eu gostaria que as pessoas conhecessem o lado bonito da nossa cultura, que é feita de amor e generosidade", diz.
Para a filha, ela faz questão de ensinar a culinária libanesa e também de cria-la da forma como os pais a criaram, tratando bem as pessoas e valorizando a educação. Al Najjar tem mestrado e diz que sempre estudou muito. A professora conta ainda que não é apenas ela que ensina a filha, mas que também aprende muito com a criança. "Ela ama dançar e tem essa personalidade que eu acho que é bem brasileira, ela ama pessoas. Eu era mais tímida, mas agora, mudei muito por causa dela. Ela me ensina muito".
"A gente sempre tem a tendência de pensar que o Brasil está ajudando refugiados. Na verdade, a gente cumpre um compromisso humanitário que foi assumido pelo país e quando a gente recebe essas pessoas, a gente ganha", acrescenta.
"Quando a gente fala de refúgio, muitas vezes a gente quer saber o que motivou a saída, como que foi a chegada, o que teve de sofrimento. São pessoas que estão vivendo, construindo suas vidas, fazendo coisas muito bacanas, muito dinâmicas, trazendo e movimentando a economia e a cultura da cidade", diz a diretora pedagógica do Abraço Cultural , Cacau Vieira. "São pessoas de vários lugares do mundo, com seus talentos com suas culturas, o que torna o ambiente mais dinâmico. Mais importante, eu acho que é uma data, então, para a gente falar sobre dignidade humana, sobre os direitos mais fundamentais", complementa, o analista de projetos sociais do Sesc, Daniel Moura.
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