Cientistas criam frente contra a fusão de ministérios
Eles programam uma série de ações, como abraço a prédios históricos, convocação de alunos e abertura de laboratórios nos fins de semana. De acordo com professores, a fusão já causou problemas: estudantes de 55 programas de formação de recursos humanos estariam sem receber bolsas. "A extinção do MCTI já impactou o pagamento de bolsas de alunos de graduação e pós-graduação vigentes no programa de recursos humanos (PRHs), que atuam nas áreas de petróleo e gás. São alunos que não têm como dar continuidade às pesquisas", afirmou a professora do Instituto de Química da UFRJ Jussara Miranda.
A preocupação dos cientistas é com a desorganização de redes de pesquisa. Em um caso como o da epidemia de zika, em que diversas instituições se mobilizam para entender desde a estrutura do vírus à microcefalia, passando pelo desenvolvimento de medicamentos e vacinas, não haveria resposta rápida se os grupos de pesquisas não estivessem ativos, com bolsistas, alunos de iniciação científica, mestrandos e doutorandos atuando nos laboratórios.
Para o reitor da UFRJ, Roberto Leher, a extinção do MCTI surpreendeu a comunidade científica brasileira, que estaria agora diante de um "aviso de incêndio". "É uma reforma sem debater com a cidadania, imposta por um governo interino."
Ele ainda criticou o deslocamento da ciência e tecnologia para um "âmbito inferior". "A fusão vai desarticular as políticas de ciência e tecnologia em curso nas universidades públicas. Com o MCTI, foi possível capilarizar a ciência em todo o território nacional."
Patrimônio
Ex-presidente da Agência Espacial Brasileira e ministro da Ciência e Tecnologia na transição entre os governos Fernando Collor e Itamar Franco, Luiz Bevilacqua disse que o patrimônio construído ao longo dos últimos 30 anos corre o risco de se perder. "Se a gente fecha uma fábrica de automóveis hoje, daqui a dois anos reabre sem grandes prejuízos. Mas interromper o processo de desenvolvimento científico e retomar depois de um ano é um desastre quase irrecuperável", comparou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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