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Delator diz que ex-ministro das Cidades recebeu propina de R$ 1 milhão

Marcio Fortes foi ministro do governo Lula, ele nega as acusações - Wilson Dias/ABr
Marcio Fortes foi ministro do governo Lula, ele nega as acusações Imagem: Wilson Dias/ABr

Em São Paulo

01/06/2016 07h40

O empresário Benedito Rodrigues de Oliveira Neto, o Bené, afirmou em delação premiada que Marcio Fortes, ex-ministro das Cidades do governo Luiz Inácio Lula da Silva, recebeu R$ 1 milhão de um esquema que resultou na contratação da agência de publicidade Propeg, em 2010.

Segundo o delator, outro ex-ministro da pasta, Mário Negromonte --hoje conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios da Bahia--, sucessor de Fortes, e o ex-deputado e ex-líder do PP na Câmara Pedro Corrêa teriam recebido valor equivalente a 10% do contrato de publicidade.

A delação de Bené foi homologada na semana passada pelo Superior Tribunal de Justiça, no âmbito da Operação Acrônimo --investigação da Polícia Federal que atribui crime de corrupção ao governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), ex-ministro do Desenvolvimento do governo Dilma.

Em sua delação, Bené afirmou que o Grupo Caoa, do setor automotivo, pagou R$ 20 milhões a Pimentel. A Caoa nega categoricamente o repasse ilegal. Pimentel, por meio de seu advogado, também negou ter recebido propina.

A delação do empresário preenche 20 anexos. Um deles é dedicado aos ex-ministros Marcio Fortes e Mário Negromonte e ao ex-deputado Pedro Corrêa - este também delator, mas de outra operação, a Lava Jato.

Bené afirmou que, por volta de 2010, Negromonte o procurou. Segundo o delator da Acrônimo, Negromonte pretendia "influenciar" licitações da área de publicidade do Ministério das Cidades. O plano seria beneficiar a Propeg.

Negromonte e Pedro Corrêa --na época, réu do mensalão-- iriam receber, segundo Bené, 10% do "resultado" da operação. O acordo previa que o ministro Márcio Fortes, que ocupou o cargo entre 2005 e 2011, e um assessor dele, conhecido por "Alcione", ficariam com uma parte do valor do contrato, desde que a Propeg fosse a escolhida.

Segundo Bené, Negromonte e Corrêa receberam total de R$ 1 milhão cada um. O ex-ministro Marcio Fortes também teria recebido R$ 1 milhão, valor pago, segundo ele, "durante mais de um ano".

Outro lado

"É falso o enredo por meio do qual se tenta envolver a Propeg em assuntos que são inteiramente estranhos à agência. Jamais, em tempo algum, houve pagamento a políticos por meio da empresa", disse a assessoria da companhia.

"Em 2010 a Propeg e outras três agências de propaganda venceram licitação para atender ao Ministério das Cidades. O certame escolheu aquelas que apresentaram as melhores propostas nas modalidades técnica e preço - como rege a lei."

O criminalista Carlos Fauaze, que defende Negromonte, informou que não vai se manifestar por não ter tido acesso à documentação constante nos autos do processo.

Negromonte afirmou que a empresa Propeg é da Bahia, seu Estado, e que ele não precisaria da intermediação de Bené para tratar de qualquer assunto envolvendo a empresa.

"A Propeg é da Bahia. Eu ia precisar do Benedicto para fazer alguma intermediação de conversa? Não tem sentido. Jamais procurei ele para esse tipo de contato", afirmou.

O ex-ministro Marcio Fortes também se defendeu. "Nego veementemente as acusações, e me coloco à disposição das autoridades competentes para esclarecimentos que eventualmente forem necessários."

Pedro Corrêa está preso em Curitiba (PR) pela Operação Lava Jato e negocia sua delação premiada.

O advogado de Pimentel, Eugênio Pacelli, rechaçou as acusações. "A defesa de Fernando Pimentel esclarece que o governador não recebeu qualquer tipo de vantagem em qualquer tempo de quem quer que seja. Se existente, é falsa e absurda a acusação de pagamento no exterior", afirmou.