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Ricardo Magro, ex-advogado de Cunha, passará a noite no presídio de Bangu

O presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), durante entrevista a jornalistas - Dida Sampaio/Estadão Conteúdo
O presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), durante entrevista a jornalistas Imagem: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo

No Rio

27/06/2016 19h09

O empresário Ricardo Magro, ex-advogado do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e principal investidor da Refinaria de Manguinhos, no Rio, passará a noite no presídio de Bangu, na zona norte do Rio.

Investigado por fraude em investimentos dos fundos de pensão Petros e Postalis, o empresário se entregou na manhã desta segunda-feira (27) à Polícia Federal do Rio, após retornar dos Estados Unidos. Ele era considerado foragido e procurado pela Interpol desde sexta-feira (24) quando teve a prisão decretada em operação do Ministério Público Federal.

Magro é acusado de integrar esquema de desvios de pelo menos R$ 90 milhões nos fundos de pensão. Além dele, também o ex-diretor institucional do Grupo Galileo, Carlos Alberto Peregrino da Silva, será transferido para Bangu nesta noite. Peregrino já prestou depoimento aos procuradores do MPF no final da tarde desta segunda. Magro só deverá prestar depoimento na próxima quarta-feira. Os dois devem permanecer cinco dias detidos no presídio, conforme o pedido de prisão temporária expedido pela 5ª Vara Federal Criminal.

Os procuradores investigam uma operação de emissão de títulos da dívida do grupo Galileo em 2010. De acordo com as investigações, a operação levantou cerca de R$ 100 milhões em recursos destinados à recuperação financeira de duas universidades particulares administradas pelo grupo. Os recursos, entretanto, teriam sido desviados para empresas e pessoas ligadas a Ricardo Magro e outras seis pessoas investigadas na operação Recomeço, deflagrada na última sexta-feira. As universidades pediram falência no início do ano.

"Estamos seguindo o dinheiro. Há indícios de que não foram para as universidades, mas para pessoas e empresas ligadas aos investigados", afirmou o procurador federal Paulo Gomes Filho, um dos responsáveis pelo caso. O MPF não descarta pedir a quebra de sigilo bancário das empresas e suspeitos investigados para determinar quem se beneficiou do desvios de recursos dos fundos de pensão de empresas estatais.

Segundo ele, apenas um suspeito segue foragido. Márcio André Mendes Costa, um dos sócios de Ricardo Magro no Grupo Galileo, estaria em Portugal. Ao todo, 46 envolvidos no esquema tiveram os bens bloqueados no valor total de R$ 1,35 bilhão. O MPF investiga os crimes de gestão fraudulenta, desvio de recursos de instituição financeira, associação criminosa e negociação de títulos sem garantia.

O empresário também é dono da Refinaria de Manguinhos, no Rio, investigada por sonegação fiscal, e é ligado a uma rede de empresas offshores em paraísos fiscais, revelado pelo Panama Papers. Magro tem relações políticas que serão investigadas pelo MPF. Além da proximidade com o deputado afastado Eduardo Cunha e com políticos do PMDB do Rio, Magro mantinha relações com Marcelo Sereno, que foi chefe de gabinete de José Dirceu quando era ministro da Casa Civil no governo do ex-presidente Lula.

"Imagina o que é acordar no Lago Sul, em Brasília, e dormir em Bangu?", ironiza o procurador Paulo Gomes. Ele integra um grupo designado pela Procuradoria Geral da República (PGR) para investigar 28 outros investimentos de fundos de pensão de empresas estatais com indícios de irregularidades. "Está muito claro que é o mesmo modo de atuação e até as mesmas pessoas envolvidas. São vários investimentos furados com os mesmos diretores e no mesmo período que levam os valores desviados para a casa de bilhão", completou.

O grupo de trabalho foi designado pelo procurador geral da república, Rodrigo Janot, na última semana. Além da operação sobre o Grupo Galileo no Rio, há outras sete investigações sobre o Fundo Postalis em curso no MPF do Distrito Federal. Os demais 28 investimentos foram realizados pela Petros, Previ e da Funcef, ligados às empresas Petrobras, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. Parte dos investimentos já foi alvo de investigação na CPI dos Fundos de Pensão, encerrada em abril com o indiciamento penal de mais de 100 pessoas.