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"Não se muda o PT com ultimatos nem caça às bruxas", diz deputado

De Brasília

18/10/2016 11h49

O deputado federal José Guimarães (PT-CE) criticou nesta terça-feira (18) a disputa entre as correntes petistas pelo comando do partido e disse que não se muda o PT com "ultimatos" nem "caça às bruxas". Integrante da tendência Construindo um Novo Brasil (CNB), majoritária no PT, Guimarães afirmou que, sem a definição de uma estratégia e de um programa, a sigla vai se perder numa "briga sem causa" e corre o risco de ver sua crise se aprofundar ainda mais.

"O PT vai fazer o quê? Vai se engalfinhar na luta interna sem visão estratégica de futuro? É um péssimo caminho", argumentou o deputado, que é um dos vice-presidentes do partido. "Esse modelo de polarização entre dois campos engessa e mata o debate."

A crítica de Guimarães tem endereço certo: o grupo "Muda PT", que abriga cinco correntes de esquerda no espectro ideológico do petismo, entre as quais a Mensagem ao Partido, do ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro. Nas fileiras dos insatisfeitos, há quem já fale, reservadamente, em nova debandada no PT, desta vez de deputados, que temem não se reeleger em 2018, caso a CNB continue dando as cartas e impeça o movimento pela "refundação" da sigla.

Em plenária realizada na noite desta segunda-feira, 17, em Brasília, o "Muda PT" aprovou um manifesto conclamando os militantes a ocupar "as ruas e os espaços" do partido, em defesa de um congresso imediato para apresentar nova estratégia, atualizar o programa e eleger outra direção. Um encontro prévio foi convocado pelo grupo para os dias 3 e 4 de dezembro.

O congresso é a instância máxima de deliberação do PT. A divergência ocorre porque o campo majoritário, liderado pela CNB - a corrente do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de Guimarães - quer que a nova direção seja escolhida em abril ou maio de 2017 por meio do Processo de Eleição Direta (PED), com voto dos filiados. O outro campo, capitaneado pelo grupo "Muda PT", exige que o 6º Congresso seja feito ainda este ano e tenha o poder de eleger os novos dirigentes.

A esquerda petista alega que o PED virou um processo contaminado por práticas eleitorais do sistema político, sendo dominado por abuso do poder econômico e filiação em massa para dirigir o resultado das urnas. "Nossos sonhos e lutas não cabem nesses artifícios burocráticos", diz o manifesto do grupo. "Queremos mudar o PT para reconquistar o apoio da classe trabalhadora, da juventude e das novas lutadoras e lutadores sociais mobilizados em todo o Brasil".

Contrariado com o rumo das discussões, na esteira do impeachment de Dilma Rousseff e depois de o PT perder 60% de suas prefeituras, tendo a maior derrota eleitoral em São Paulo, Guimarães disse que há descontentes fazendo ameaças sem sequer discutir um projeto para o partido. "Ninguém mais do que eu prega mudanças substantivas no PT, com atualização do programa e reformulação da política de alianças, privilegiando as forças de esquerda", afirmou o deputado, que foi líder do governo na Câmara na gestão de Dilma.

Guimarães concorda com a troca do comando petista em todos os níveis, do diretório nacional às seções estaduais e municipais. "Mas não dá para fazer o debate atropelando as regras, a política, e ameaçando 'se fizer isso, eu fico; se não fizer, eu saio'. Você não muda nada com ultimatos nem caça às bruxas. Os que saíram no passado do PT perderam vergonhosamente e o nosso partido continua com uma base grande", argumentou.

Em sintonia com Lula, o deputado defendeu uma oposição "propositiva" ao governo do presidente Michel Temer. "Devemos discutir um novo programa econômico para o País. Se o de Temer é de restrição de direitos, precisamos propor algo para pôr no lugar", insistiu ele.

A Operação Lava Jato, que tornou Lula réu e prendeu vários nomes de peso do PT, também serve de combustível para o racha no partido. Em público, todas as correntes pregam uma autocrítica dos erros cometidos, embora questionem a "seletividade das investigações", que estariam protegendo políticos do PSDB e do PMDB. Mesmo assim, a defesa da punição para quem cometeu irregularidades no PT, como prevê o Código de Ética da legenda, ainda divide o partido.

"A ideia de que tudo é ataque da direita impede o debate crítico", disse o secretário de Formação Política do PT, Carlos Henrique Árabe, da corrente Mensagem ao Partido. "Precisamos superar essa visão acomodada. Não tem aqui ultimato, mas devemos nos debruçar sobre um processo de apuração, porque essa crise atinge todo o PT." E concluiu: "O que se sucedeu em relação à questão financeira no partido? Por que não fizemos reformas mais profundas? Queremos olhar para o futuro, mas também examinar o que nos levou a tantas derrotas."