Direita francesa escolhe candidato
Protagonistas da vida política do país há três décadas, os dois surpreenderam ao eliminar no primeiro turno Nicolas Sarkozy, ex-presidente entre 2007 e 2012. O vencedor será desde já o maior adversário de Marine Le Pen, candidata da Frente Nacional (direita populista), até aqui favorita na eleição de abril e maio.
Embora representem o mesmo partido, Fillon e Juppé são líderes de correntes distintas na direita francesa. O primeiro se diz radical, admira a Dama de Ferro britânica, Margaret Thatcher, e propõe como plano de governo um choque de liberalização do país. O segundo se apresenta como moderado, cultua o líder da resistência e ex-presidente francês Charles De Gaulle e diz ser porta-voz não apenas da direita, mas também do centro. As diferenças ficaram claras no último debate entre os dois, na quinta-feira.
Fillon pregou um "eletrochoque" e uma guinada à direita na França. "Nosso país está à beira da revolta", disse o conservador, prometendo um calendário intenso de reformas nos três primeiros meses de mandato, seguidas de um plebiscito para aprová-las. "Caso contrário, os franceses virarão as costas à política e nós correremos o risco de ver os extremismos vencerem."
Já Juppé foi fiel a seu estilo gaullista, de mediação social. "Jamais vencemos uma eleição quando não unimos a direita e o centro", advertiu. "Se fecharmos a porta aos decepcionados por Hollande e por Sarkozy, não ganharemos nada."
Poder Apesar das diferenças de estilos e de abordagem, os dois candidatos têm o destino em comum: o vencedor sairá das prévias como fortes chances de se tornar o próximo presidente da França, substituindo o socialista François Hollande no Palácio do Eliseu.
A julgar pelas pesquisas de opinião e pelo resultado do primeiro turno, Fillon tem grandes chances de ser o nome que vai desafiar Marine Le Pen, Hollande - que deve confirmar sua candidatura à reeleição nos próximos dias -, o ex-ministro da Economia Emmanuel Macron (En Marche, centro) e o populista de esquerda Jean-Luc Mélenchon (Insubmissos, esquerda radical).
Católico praticante, representante de uma burguesia contrária ao aborto e ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, Fillon foi premiê de Sarkozy, quando foi apagado pelo então presidente a ponto de ser chamado de "colaborador", e não de chefe de governo.
Menosprezado ao longo de seus dois anos de campanha, o ex-premiê, de 62 anos, foi protagonista de uma virada espetacular no primeiro turno das primárias ao encarnar uma direita seca, republicana e sem populismos - distinguindo-se de Marine Le Pen. Mesmo que tenha um discurso duro em relação à imigração e tenha frisado a intenção de se afastar mais dos EUA e se aproximar mais da Rússia, Fillon não se deixou contaminar pela onda de críticas à globalização, nem usa a União Europeia como bode expiatório dos problemas do país.
No domingo passado, esse discurso funcionou, levando-o à vitória com 44% dos votos. Juppé obteve 28%. "Os eleitores não votam ao acaso, e quando em uma primária 4,3 milhões de pessoas vão às urnas, é impossível recuperar mais 15 pontos de atraso", avalia o cientista político Roland Cayrol, diretor-adjunto de pesquisas do Centro de Pesquisas Políticas (Cevipof). "Fillon é o franco favorito."
Se confirmar esse favoritismo diante de Juppé, para muitos analistas políticos Fillon terá caminho livre ao Palácio do Eliseu graças ao teto eleitoral de Marine - até aqui avaliado em 28% a 29% do eleitorado - e à fragmentação do rival Partido Socialista (PS, centro-esquerda), que contribui para a força da direita.
Quatro membros do governo Hollande almejam a presidência - além do atual chefe de Estado, são pré-candidatos os ex-ministros Emmanuel Macron, Arnaud Montebourg e Benoit Hamon. Além deles, Mélenchon, dissidente do PS que já se lançou candidato. A divisão faz com que nenhum ultrapasse até aqui a previsão de 18% dos votos, o que os posiciona, na melhor das hipóteses, como uma distante terceira força política.
"Haverá uma esquerda dividida entre três ou quatro candidatos", antevê o cientista político Pascal Perrineau, do Instituto de Estudos Políticos, de Paris. "O suicídio é sempre possível em matéria de política, mas dessa forma o ardor suicida da esquerda será como nunca visto." (Andrei Netto, correspondente) As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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