Estudo revela que infecção prévia por dengue pode agravar zika
De acordo com o autor principal do estudo, Jean Lim, da Escola de Medicina Icahn, do Hospital Mount Sinai, em Nova York (Estados Unidos), caso as conclusões do estudo em camundongos sejam válidas também para humanos, será preciso ter cuidado no desenvolvimento de vacinas: em tese, uma pessoa vacinada contra um dos flavivírus, ao ser infectada por zika, poderia ter seus sintomas agravados.
"É urgente fazer novos estudos para saber se isso de fato pode ocorrer em humanos", afirmou Lim. No novo estudo, os cientistas injetaram em camundongos anticorpos humanos de 141 indivíduos infectados com dengue e de 146 outros infectados com a febre do Oeste do Nilo.
Depois de infectados, os camundongos - que foram geneticamente modificados para se tornarem suscetíveis aos flavivírus - foram expostos à infecção pelo vírus da zika. Outro grupo de animais foi infectado com zika sem receber os anticorpos.
Entre os animais que não receberam os anticorpos, a taxa de sobrevivência à infecção por zika foi de 93%. Já os camundongos que receberam anticorpos, tiveram alta taxa de mortalidade. A infecção foi mais agressiva entre os que receberam anticorpos de dengue: a taxa de sobrevivência foi de apenas 21%.
O estudo descreve o estado dos camundongos que receberam os anticorpos da dengue e o vírus da zika como "seriamente doentes", com sintomas que incluíam perda de peso, surdez, febre, paralisia e morte. Os níveis de vírus da zika encontrados em seus tecidos foram 10 vezes maiores que os registrados nos animais que não receberam anticorpos.
Segundo os pesquisadores, os resultados representam um grande desafio para o desenvolvimento de vacinas contra esse grupo de vírus. Eventualmente, a exposição a um vírus resulta em uma doença mais grave quando é sobreposta à infecção por vírus semelhantes - um fenômeno que os cientistas chamam de aumento dependente de anticorpos.
Caso seja confirmado futuramente que o aumento dependente de anticorpos também ocorre em humanos, isso poderia ajudar a explicar a explosão da recente epidemia no Brasil, onde em algumas comunidades 90% da população foi infectada por dengue, segundo os autores do estudo.
Os camundongos que receberam os anticorpos da dengue ou da febre do Oeste do Nilo também apresentaram níveis mais altos do vírus da zika nos testículos e na medula espinhal que os animais do grupo de controle.
"Aparentemente, por causa do aumento dependente de anticorpos, o vírus foi capaz de se introduzir em áreas que normalmente são relativamente protegidas", disse Lim.
Segundo o cientista, isso poderia aumentar os casos de transmissão sexual da zika. A presença de níveis mais altos do vírus na medula espinhal dos camundongos também ajudaria a explicar dois dos problemas do sistema nervoso central ligados à zika: a microcefalia em bebês e a síndrome de Guillain-Barré em adultos.
No artigo, os autores destacam já ser conhecido o fato de que o aumento dependente de anticorpos pode agravar as infecções por dengue: o vírus que provoca essa doença tem quatro diferentes subtipos e a segunda infecção por um subtipo diferente desencadeia os casos mais severos.
Segundo os cientistas, isso ocorre porque os anticorpos da primeira infecção podem se encaixar em um local do vírus e em outro local das células. Assim, em vez de bloquear a infecção, os anticorpos acabam agravando-a, levando à dengue hemorrágica.
Uma proteína existente na superfície do vírus da zika, que é o alvo preferencial dos anticorpos, é extremamente semelhante às que existem nos vírus da dengue e da febre do Oeste do Nilo.
No ano passado, um estudo liderado por Gavin Screaton, do Imperial College London, já mostrava que a semelhança entre os vírus da zika e o da dengue pode agravar os problemas. Em estudos in vitro, ele demonstrou que o vírus da zika tem muito mais probabilidade de infectar células humanas quando elas entram antes em contato com anticorpos da dengue.
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