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Temer prefere Meirelles na Fazenda do que na eleição

O presidente Michel Temer e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles - Ueslei Marcelino/Reuters
O presidente Michel Temer e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles Imagem: Ueslei Marcelino/Reuters

Eliane Cantanhêde

Brasília

11/01/2018 11h00

O presidente Michel Temer (PMDB) diz acreditar que o eleitor brasileiro vai votar na "segurança e na serenidade" em outubro, o que não apenas ajuda a desenhar o perfil dos candidatos à Presidência com chances de vitória como leva a uma conclusão: "As pessoas estão cansadas de tudo isso [a confluência de crises] e vão querer a continuidade, a manutenção do nosso programa de governo, que está recuperando a economia e a tranquilidade. Ninguém quer aventura".

Em conversa no Palácio do Jaburu, residência oficial, Temer elogiou o governador Geraldo Alckmin (PSDB), admitiu preferir que o ministro Henrique Meirelles (PSD) continue na Fazenda a disputar a eleição e opinou que o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) tende a disputar a reeleição à Presidência da Câmara, mas "só tem a ganhar" ao se movimentar pela sucessão presidencial.

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Segundo Temer, Alckmin preenche os requisitos de "segurança e serenidade". Quanto à falta de apoio do governador nos piores momentos do presidente, nas duas denúncias do ex-procurador-geral Rodrigo Janot, Temer relevou: "Não sei exatamente por que, mas nunca fui rancoroso. Ele [Alckmin] deve ter tido os motivos dele, e isso passou". Ambas as denúncias --uma por acusação de corrupção passiva e outra por obstrução da Justiça e organização criminosa-- foram barradas pela Câmara no ano passado.

Ao se dizer "amigo do Geraldo há muitos anos", ele relatou que tem falado sempre com Alckmin e que ambos tinham até combinado voltar juntos do Fórum de Davos, na Suíça, no dia 25, mas o governador lembrou que é o dia do aniversário de São Paulo e ele não poderia se ausentar da festa.

Para Temer, é o oposto: é conveniente estar fora do país no dia 24, data em que está marcado o julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4). Ele, porém, decidiu ir a Davos, entre os dias 22 e 25, porque deve integrar o seleto grupo de chefes de Estado e de governo com direito a discurso no Congress Hall, o auditório principal do fórum, com cerca de 1.500 lugares. Além do brasileiro, que vai falar da evolução e dos indicadores positivos da economia desde a crise de 2015 e 2016, devem discursar ali também o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e os líderes da Índia e, possivelmente, da Argentina.

"Será uma excelente chance para mostrar aos grandes investidores do mundo tudo o que estamos fazendo no Brasil", disse ele na conversa com o jornal "O Estado de S. Paulo", em que falou também sobre a pré-candidatura de Maia, que, aliás, vai assumir a Presidência enquanto ele estiver na Suíça.

"O Rodrigo está se movimentando muito, mas ainda acho que a prioridade dele é se reeleger para a Presidência da Câmara, que é um cargo excepcional. De qualquer forma, ele não tem nada a perder, só a ganhar. E é aquela história, 'se colar, colou'", disse o presidente, enfatizando que não tem candidato.

Reforma

Para Temer, "a sucessão presidencial só começa a partir de março" e a prioridade é aprovar a reforma da Previdência na Câmara em 19 de fevereiro. Ao ser questionado se já tem os 308 votos necessários, a resposta é de pronto: "Ainda não, mas vamos ter".

Segundo ele, há sinais de que deputados antes refratários à proposta começam a se dizer mais flexíveis, por três motivos: a proposta final está enxuta, a população começa a entender a sua necessidade e os candidatos querem se livrar desse debate na campanha. Ele, porém, reclamou da Justiça, que suspende as propagandas do governo pró-reforma, mas não as das corporações contrárias a ela.

Outro argumento para deixar a eleição para março: "O ambiente ainda está muito confuso. Por exemplo: o MDB [seu partido] vai ter candidato? Um candidato próprio ou alguém que migre de outra sigla?" Esse poderia ser o caso de Meirelles, hoje filiado ao PSD. Temer elogiou "a inteligência e a capacidade política" do ministro, mas admitiu: "Ele seria um grande presidente, mas, para mim, é claro que é muito melhor que fique na Fazenda".

Outros dois ministros-chave do governo também não confirmaram se saem ou ficam: Aloysio Nunes Ferreira (Relações Exteriores) e Raul Jungmann (Defesa). Com um sorriso, Temer desmente as versões de que terá dificuldade para substituir os pelo menos 13 ministros que vão se desincompatibilizar para concorrer em outubro: "Você nem imagina! Todo mundo quer ser ministro!". As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".