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Em SP, luta contra febre amarela ocorre de casa a casa

Paula Felix

São Paulo

26/02/2018 08h40

"Bom dia! Vamos acordar! Vamos tomar a vacina da febre amarela", grita uma mulher usando um microfone com alto-falante. Ela desce uma rua em Pirituba, na zona norte da capital, atraindo a atenção de moradores. Eles se deparam com agentes de saúde e enfermeiras transportando uma caixa de isopor com doses da vacina contra o vírus. É a ação de imunização que está "caçando" casa a casa desde o início do mês pessoas que ainda não foram imunizadas, apesar da campanha.

Na quarta-feira, 21, o jornal O Estado de S. Paulo acompanhou uma das equipes que estão participando da ação. As abordagens ocorrem já nas ruas, em lojas e até em bares. Pessoas acamadas e deficientes estão entre os pacientes que ainda não procuraram a vacina nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs). Mas há casos de quem não foi imunizado por não conseguir ir às unidades no horário de funcionamento ou porque têm medo de ter alguma reação à vacina.

"Não tomei porque não consegui levar a minha filha na cadeira de rodas. Esperei chegar em casa. Quando tem outras vacinas, sempre tomamos em casa. Estava com muita fila e eu também estava com medo dessa vacina", contou Sebastiana Cabral de Almeida, de 70 anos, ao lado da filha Janaína, de 35 anos, as primeiras vacinadas.

Com receio, a doméstica Maria Monteiro, de 56 anos, ainda não havia tomado a vacina. "Eu estava com medo de tomar, porque as pessoas estão morrendo. Sem falar que, sempre que eu ia, tinha fila e a vacina acabava." Com a visita dos agentes, ela, a filha e a nora receberam a dose. O processo é rápido: enquanto o paciente é vacinado, outro agente preenche o comprovante de vacinação.

Muitos conhecem os pacientes pelo nome e saem consultando se eles se imunizaram. No beco 50 A, uma fila com pouco mais de dez pessoas se formou e se desfez rapidamente. "Não tinha tomado ainda, porque fiquei com medo. Tenho bronquite e fiquei com medo da reação", diz a doméstica Romilda Marcelino, de 38 anos. Um homem que estava observado a ação foi abordado em frente a um bar. Lá mesmo, em uma das mesas, ele foi imunizado. Em duas horas, cem doses foram aplicadas.

"Empresas de ônibus, igrejas, supermercados, farmácias, comércios. Todos eles foram procurados e nos ajudaram nesse processo de vacinação com o uso de seus espaços e até fornecendo água e café para as equipes", diz o supervisor técnico de Saúde de Pirituba, Wagner Fracini. Ele conta que para chamar a atenção dos moradores os agentes também já usaram pandeiro e apito, além do grito.

Cobertura

Coordenador regional de Saúde Norte da Secretaria Municipal da Saúde, José Mauro Correa afirma que a cobertura vacinal da região, primeira a ser imunizada na capital, chegou a 75% e a meta é imunizar toda a população da zona norte até o fim de junho. "Estamos pedindo que a população vá às unidades de saúde para fazer a avaliação para saber se pode tomar a vacina. Nosso esforço é para fazer a cobertura vacinal e vamos conseguir vacinar todo o território."

Correa afirma que houve muita procura no início da campanha, mas que o movimento caiu. Agora, diz, a ação casa a casa realizada pelos agentes está fazendo a diferença. "É um trabalho forte de sedução do funcionário, que tem de dar conta do funcionamento normal da UBS e da imunização. Eu considero que essa é uma ação que está tendo êxito."

Desafio

Segundo Marcos Boulos, coordenador de Controle de Doenças da Secretaria de Estado da Saúde, campanhas de imunização que têm adultos entre o público-alvo costumam ter problemas com adesão. "Vacinar adulto é muito difícil, porque as pessoas acham que não vai acontecer nada com elas, mas boa parte das pessoas que morreram por causa da febre amarela não tinha tomado a vacina. Sabemos que a vacina não é uma coisa inócua, mas a doença é muito mais grave do que a vacina."

Boulos diz que a cobertura vacinal no Estado, embora esteja aumentando, ainda pode ser considerada baixa (45%). Ele afirma que a ação casa a casa está sendo realizada em todos os municípios do Estado. De acordo com Boulos, o índice na capital é de 17,1% (dados até 29 de janeiro deste ano). "É considerado baixo, mas não era uma área de recomendação. Agora, vai ter de subir." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.